Público - 05.10.2019

(nextflipdebug5) #1

24 | FUGAS | Sábado, 5 de Outubro de 2019


Quinta dos Murças


Há onze anos, a herdade alentejana


do Esporão apostou no Douro


e comprou a Quinta dos Murças.


Há pouco mais de seis meses abriu


o enoturismo. Pode-se dormir,


passear de barco, fazer pisa


a pé e descobrir um mapa das


vinhas com oito terroirs diferentes.


Alexandra Prado Coelho


À beira


do Douro,


pisando uvas


ao luar


a São dez da noite quando nos levan-
tamos da mesa onde estivemos a
jantar com José Luís Moreira da Silva,
o enólogo da Quinta dos Murças, e
nos dirigimos para a zona dos lagares
onde, desde as oito, um grupo de
homens está a pisar uvas. Ainda
vamos a tempo de os acompanhar
mais duas horas, até à meia-noite,
dentro de um dos lagares, a avançar
ritmadamente, primeiro numa direc-
ção, depois na outra, entre conver-
sas, piadas e músicas – e, sim, tam-
bém se cantam canções alentejanas
enquanto se faz pisa a pé no Douro.
Por estas noites de tempo de vindi-
ma é sempre assim – estes homens,
que durante o dia têm os seus traba-
lhos em nada relacionados com o
vinho, à noite vêm para aqui pisar
uvas. José Luís anda por ali, veriÆcan-
do a evolução da fermentação nos
lagares, atento a este momento tão
vital na vida de uma quinta, em que
se joga o trabalho de um ano inteiro.
O enólogo chegara ao Ænal da tar-
de, vindo da Quinta do Ameal, que a


herdade alentejana do Esporão, tam-
bém proprietária dos Murças, acaba
de comprar na região dos Vinhos
Verdes (ver caixa). Esperamo-lo
enquanto bebemos um Assobio bran-
co na varanda da casa, em frente ao
rio Douro. Murças – que em Novem-
bro passado abriu o seu enoturismo,
com cinco quartos – é uma quinta
com uma longa história.
Os primeiros registos que existem
da propriedade situada na margem
direita do rio, entre a Régua e o
Pinhão (e entre as sub-regiões do Bai-
xo e Cima-Corgo), são de 1714, na
altura ainda com outro nome. Aqui
fazia-se vinho do Porto (o primeiro
vinho do Douro é de 1994) e com uma
produção considerável, que justiÆca-
va a existência de uma linha de com-
boio própria para transportar os
barris até ao Porto.
Houve sempre, contar-nos-á José
Luís durante o jantar, um espírito de
inovação nesta quinta, que o Esporão
comprou em 2008 à família Pinto de
Azevedo. Um dos seus símbolos, que

Quinta dos Murças
Covelinhas
5050-011 Peso da Régua
Preços: quarto single (120€ em
época baixa, 160€ época alta);
quarto duplo (140€/180€); área
familiar (dois quartos com uma
casa de banho, 230€/250€);
casa completa com capacidade
para dez pessoas (600€/750€).
Os preços incluem pequeno-
-almoço. Almoço e jantar para
hóspedes por reserva (25€).
O enoturismo, que recebe
visitantes entre as 9h e as 18h,
tem uma série de ofertas que
podem incluir visitas ao campo
e à adega com provas de vinhos,
caminhada com mapa e prova
de vinhos, passeio de barco
e piquenique (preços das
actividades entre os 20
e os 50€).

i


a diferencia e que o Esporão quer
potenciar, são as vinhas verticais. Em
vez dos patamares que caracterizam
a paisagem do vale do Douro, aqui
encontramos vinhas plantadas verti-
calmente, em planos por vezes tão
inclinados que é difícil imaginar
como se faz a vindima sem escorre-
gar pela encosta abaixo.
No dia seguinte, Manuel Machado,
um dos funcionários que aqui nos
fazem sentir em casa, leva-nos até à
parte de cima da propriedade para
vermos essas vinhas verticais e per-
cebermos de que forma isso é vanta-
joso para o modo de produção bioló-
gico, porque, ao passar mais facil-
mente entre as plantas, o vento seca
e ajuda a evitar pragas e doenças.
Percebemos isso claramente quando
o vento forte – “é sempre assim aqui”,
explica-nos Manuel – nos despenteia
e nos obriga a fechar os casacos.
Quando, no Verão de 2015, José
Luís chegou à Quinta dos Murças,
havia já a ideia de que destes terrenos


  • 150 hectares de terra, dos quais 50


com vinha (os restantes são olival,
pomar com muitas laranjeiras e área
Çorestal), e quatro quilómetros de
frente de rio – saíam vinhos com
características muito diferentes. Mas
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