26 | FUGAS | Sábado, 5 de Outubro de 2019
Os vinhos que os candidatos devem beber
hoje para enfrentar as eleições de amanhã
a Tinha pensado mergulhar na
leitura de todos os programas
políticos que vão a votos amanhã,
para saber que medidas ligadas ao
vinho defendem cada um dos
partidos. Era uma tarefa de peso,
mas lembrei-me que hoje, sábado, é
dia de reÇexão e que não se pode
fazer política. De modo que resolvi
tomar a liberdade de sugerir um
vinho a cada um dos principais
cabeças-de-lista, para os ajudar a
reÇectirem melhor e a aproveitarem
bem o descanso. Lembrem-se que a
verdade está no vinho.
Para não ser acusado de parcial,
vou apresentar a minha winelist por
ordem alfabética dos partidos.
Como são tantos, tive que
estabelecer um critério jornalístico
e decidi contemplar apenas os
partidos com possibilidades de
eleger deputados, de acordo com a
generalidade das sondagens (não é
um critério muito democrático, mas
a democracia também não é
perfeita). Aos restantes, desejo boa
sorte e que bebam um Quinta da
Boa Esperança Touriga Nacional
2016, da região de Lisboa, para
onde todos querem ir morar nos
próximos quatro anos.
Aqui vai:
Santana Lopes, Aliança
O nome está mesmo a pedi-las. Tal
como Berardo – o dono, por
interposta fundação, das Caves
Aliança –, Santana Lopes também é
um bonacheirão. Sei que é
sportinguista, mas hoje
proponho-lhe um Aliança Casal
Mendes Blue, um vinho da mesma
cor do partido. Não é grande
recomendação, admito, mas
também não é veneno.
Catarina Martins,
Bloco de Esquerda
Com caviar, não há nada melhor do
que um bom champanhe. Como
bom patriota, sugiro um
espumante, o Bairrada CCCP Pinot
Noir 2008. É verdade que o nome
CCCP é muito sugestivo, mas não
tem qualquer conotação política,
acreditem. É apenas CC de Carlos
Campolargo e CP de Celso Pereira.
Às vezes vemos fantasmas onde
eles não existem.
Assunção Cristas, CDS
Confesso que não foi fácil
encontrar um vinho para a líder
dos populares. Tinha pensado num
vinho bem maduro do Douro, mas
temi que lhe subisse demasiado à
cabeça e a deixasse ainda mais
irritada com António Costa – e não
é muito bonito ver uma senhora
irritada. Decidi-me pelo Herdade
das Servas Escolha Branco 2018,
um vinho do Alentejo, produzido
por um dos dirigentes da CAP. Fica
tudo em família, portanto. E é
barato. Vai bem com o atum e arroz
que Cristas diz fazer muitas vezes
em casa, para desenrascar.
Jerónimo de Sousa, CDU
O candidato da CDU, confesso, é o
tipo de pessoa que apetece levar
para a nossa adega. É simpático,
não tem manias e tem ar de quem
sabe apreciar as pequenas e boas
coisas da vida, em lugares simples e
na companhia de gente simples.
Vê-se que não faz mal a uma mosca,
apesar de defender coisas terríveis.
Um vinho de lavrador ia a matar.
Mas não se podem vender. Em
alternativa, pensei no Honrado
Talha 2018, um vinho de talha de
Vila de Frades, no Alentejo. Deve
ser bebido a 12 graus e com a canção
Eu ouvi um passarinho em fundo.
André Ventura, Chega
Há vinhos que já nasceram à
medida de certos candidatos. É o
caso do Gypsy Tinto, do
sul-africano Ken Forrester. Se não
houver nenhuma colheita à venda
em Portugal, André Ventura pode
sempre beber o S.L. BenÆca 2016,
um tinto da região de Lisboa. O
rótulo não tem nenhum sapo, mas
é escuro.
Carlos Guimarães Pinto,
Iniciativa Liberal
Domaine de la Romanée -Conti
- Um grande tinto da
Borgonha. Custa 23 mil euros, mas
cada um gasta o dinheiro como
quer. Que mal tem um gestor que
ganha milhões de euros por ano
gastar 23 mil euros numa garrafa
de vinho? Se formos competitivos e
trabalharmos no duro, todos nós
vamos um dia poder beber a nossa
garrafa de Romanée-Conti. O
Tomei
a liberdade
de sugerir
um vinho
aos principais
cabeças-de-
-lista.
Lembrem-se
que a verdade
está no vinho
Pedro Garcias
Elogio do vinho
sempre melindroso nos dias que
correm. Se for um branco, vão
acusar-me de estar a ser racista; se
for um tinto, vão atirar-me com o
complexo do homem branco à cara.
Sendo assim, o melhor é propor um
rosé. O Redoma, da Niepoort, por
exemplo, é uma bela escolha. Não,
não me acusem de estar a fazer a
apologia da escravatura!
André Silva, PAN
Perdi-me nas hipóteses para o líder
do Partido das Pessoas, dos
Animais e da Natureza. Comecei
por hesitar entre os alentejanos
Monte da Raposinha e Trinca
Bolotas, mas, depois de ter
vasculhado a longa Arca de Noé do
vinho, acabei por escolher o tinto
Papa Figos 2017, do Douro – mais
por aÆnidade regional, reconheço,
porque os animais são todos
iguais, embora saibamos que há
uns mais iguais do que outros. Este
tinto tem a particularidade de
evocar um pássaro que, além de
bonito, é vegetariano. Em bom
rigor, o Paga-Figos é mais um
frugivorista. Para quem não sabe,
o frugivorismo é uma das inúmeras
correntes do PAN. Dizem que está
mais à esquerda, mas não se
percebe bem porquê.
Rui Rio, PSD
Schloss Lieser Helden Riesling
Spatlese Trocken 2017. Não há
como beber um vinho estrangeiro
para sonharmos com a ideia de
que não vivemos cá e evitarmos
ter que descer à terra. O nome
deste branco da região do Mosela,
na Alemanha, pode parecer
complicado, mas o líder do PSD
fala um alemão Çuente e sabe bem
que lhe estou a propor coisa boa.
A alternativa era um branco da
zona de Tancos, mas andei a
pesquisar e não encontrei nenhum
decente.
António Costa, PS
Aveleda Reserva da Família
Alvarinho 2017. Como a família de
Costa é grande, aconselha-se uma
garrafa double magnum ou, em
alternativa, quatro garrafas de 750
ml. É perfeito para acompanhar
uma cataplana de peixe.
ADRIANO MIRANDA
VinhosVinhos
Jornalista e produtor
de vinho no Douro
liberalismo não fecha as portas a
ninguém, nem mesmo àqueles a
quem os grandes gestores pagam
apenas o ordenado mínimo. O que
o país precisa é de mais trabalho e
menos inveja.
Joacine Katar Moreira, Livre
Sugerir um vinho para uma
candidata afrodescendente é