Folha de São Paulo - 03.10.2019

(C. Jardin) #1

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mundo


Quinta-Feira,3DeOutubrODe2 019 A

Boeing vetou sistema antiqueda de 737MAX


em denúncia, engenheirosênior dafabricantediz que equipamentodesegurançafoirejeitado parareduzir custos


THENEWYORKTIMESUmenge-
nheirosênior daBoeingfez
uma queixa interna neste ano
na qual afirma que,duranteo
desenvolvimentodojato 737
MAX,aempresa rejeitou um
sistemadesegurançaparami-
nimizar custos.
Oequipamento, segundo
ele, poderiaterreduzido os
riscosquecontribuírampa-
radois acidentes que mata-
ramtodas as pessoasabor-
do: um na Etiópia,emmar-
çodesteano,eoutronaIn-
donésia, em outubrode 2018.
ABoeing apresentouade-
núncia aoDepartamentode
Justiçaamericanocomo par-
te de uma investigaçãocrimi-
nal sobreodesigndo MAX.
Agentesinterrogaram ao
menos umex-funcionário da
Boeingsobreasalegações,
mas não estáclaro se eles as
consideraramverídicas.
Aqueixa,registrada apósos
dois acidentes,reforçapreo-
cupaçõescomaculturacor-
porativa daBoeing.Aempre-
sa tentarestaurarsuareputa-
çãoeretomar as operações
comosaviões.
Muitos funcionáriosatuais e
antigosdaBoeingdiscutiram
sob sigilo os problemascom
oprocessode designeato-
mada de decisões no mode-
lo 737 MAX.Eles descreveram
episódiosemque osgerentes
rejeitaramasrecomendações
dos engenheiros ou prioriza-
ramoslucros.
Oengenheiroque levantou
as questões de éticaesteano,
CurtisEwbank,foi além,regis-
trando uma queixaformal e
acusandooexecutivo-chefe
dedeturpar publicamentea
segurançadoavião.
Duranteodesenvolvimen-
to do 737 Max,Ewbank traba-
lhou nos sistemasdecabine
de pilotagem que os pilotos
usam para monitorarecon-
trolaroavião.
Em sua queixaàBoeing,ele
disse queosgerentesforam
solicitadosaestudar um sis-
tema de backupparacalcular
avelocidade doavião.Osiste-
ma,conhecidocomovelocida-
de sintéticadoar, utilizavári-
as fontes de dados paramedir
arapidez comque uma aero-
nave estávoando.
Oengenheirodisse que es-
se equipamentopode detec-
tarquando os sensores de ân-
gulo deataque, que medem a
posiçãodoavião nocéu, es-
tãocom defeito, eimpedem
que outros sistemasconfiem
nessas informações errôneas.
Umaversão do sistemaéusa-
da no 787 Dreamliner daBo-
eing,umnovomodelo.
Nosdois acidentesdoMAX,
acredita-seque um sensor de
ângulo deataquetenhafalha-
do,enviandodados errados
paraumsoftware automatiza-
do projetadoparaajudaraevi-
taraperda de sustentaçãoda
aeronave.Esse software,co-
nhecidocomoMCAS,foi ati-
vado indevidamente,fazendo
comque osaviões sofressem
quedas abruptas.
Ewbank salientou na de-
núncia: “Nãoépossível afir-
marcomcerteza quequal-
quer implementaçãoreal da
velocidade sintéticadoarno
737 MAXteriaevitadoosaci-
dentes” na EtiópiaenaIndo-
nésia. Mas ele afirmou que as
ações daBoeingsobreoassun-
to apontam parauma cultu-
ra que enfatizaolucroàcus-
ta da segurança.
Duranteodesenvolvimento
do MAX,aBoeingtentouevi-
tarainclusão decomponentes
que poderiamforçar ascom-
panhias aéreasatreinar pilo-
tosemsimuladores devoo, o
que aumentariaoscustosdes-
sas empresas em dezenasde
milhõesdedólares.
Mudanças significativas no
MAXtambém poderiamter
exigido um processodecerti-
ficação mais oneroso,emvez
do simplificado usado para
um modelos derivados.
Deacordocomadenúncia
deEwbank,RayCraig,um


dos principais pilotosdetes-
te do 737 ,eoutros engenhei-
rosqueriam estudarapossi-
bilidade de acrescentarosis-
tema develocidade sintética
do ar ao MAX.Mas umexecu-
tivodaBoeing descartouahi-
pótese porcausa de seu poten-
cial custoeefeitonos requisi-
tosdetreinamento.
“Eu estavadispostoadefen-
derasegurança eaqualidade,
mas nãoconseguiexercerde
fato nenhum efeitosobrees-

sas áreas”,disse Ewbank na
denúncia,acrescentando:“A
administração daBoeing es-
tavamais preocupadacom
custoecronogramado que
comsegurançaouqualidade”.
Seurelato,bemcomo as des-
crições dos benefícios do sis-
tema no 787 Dreamliner,fo-
ramrespaldados por umex-
funcionáriosêniorenvolvido
nas discussões, quefalou sob
condiçãode anonimato.
Oex-funcionário,que traba-

lhou no MAX,confirmou que
osexecutivos haviam discu-
tidoosistema.Ele disse que
eles determinaram quetentar
instalaranovatecnologia no
737 MAX,umavião baseado
em um design da década de
1960 ,seriamuitocomplica-
doearriscado paraoprojeto,
em virtude do cronograma de
desenvolvimento apertado.
Mas eledisse queaqueixa
de Ewbank superestimoua
importânciadesse sistema

esubestimouacomplexida-
de de adicioná-lo ao 737 Max.
Esseex-empregado afirmou
queaBoeinginstalouosiste-
ma apenas nos 787 Dreamli-
ners, observando que nãofi-
couclarocomo ou seoMax
poderiacalcular da mesma
formaavelocidadesintéti-
cadoar,porquepossuime-
nossensores.Ofuncionário
também nãose lembrados
executivos citandoopossí-
velimpactonotreinamento

de pilotos ao decidir não in-
cluirosistema.
Um porta-vozdaBoeing,
GordonJohndroe, disseque a
empresa “ofereceaseusfunci-
onáriosvárioscanaisparaex-
por preocupaçõesereclama-
ções epossui processos rigo-
rosos,tantoparagarantir que
taisreclamações sejam ana-
lisadasdeformaminuciosa
quantoparaprotegeracon-
fidencialidade dos funcioná-
rios que asfazem”.
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