Folha de São Paulo - 03.10.2019

(C. Jardin) #1

aeee


ilustrada


C6 Quinta-Feira, 3DeOutubrODe2 019



  • Felipe Maia


SãoPauloAo menos umavez
por semana,apublicitáriaNa-
taliaFrançaouvemúsicaem
rádios independentes.Não em
playlists no Spotify ou estações
FM, mas seleçõesfeitas por

DJs, quevãodefaixasgarim-
padas de vinisalançamentos
que chegamapoucos ouvidos.
Essasplataformas, funci-
onando online,formam um
movimentoquevemcrescen-
do no Brasil emcontrapon-
to àpasteurização derádios

comerciais ouàonipresença
dos algoritmosdo streaming.
“Quandoéumarádio dessas,
há alguém por trás das músi-
cas, eisso me leva aalgomais
emocional,menos frio,parece
queestouconhecendo um pou-
co do queapessoatemafalar”,

Rádios independentes crescem


na contramão dos algoritmos


Projetos abrem espaçoaartistasfora da FMou das plataformas de streaming


afirma França, ouvinte
da rádioNaManteiga(naman-
teiga.com),deSãoPaulo.
Acapital paulistareúne ain-
daaVeneno (veneno.live), a
Cereal Melodia(cerealmelo-
dia.com),aVírusss(mixlr.com/
radio-virusss)e aveterana Me-
tanol (mixlr.com/metanol-fm).
Mesclandotransmissãocon-
tínuaeprogramas esporádi-
cosaumaferrenhacuradoria,
se juntamanomescomoNas
Radio Show,de PortoAlegre
(soundcloud.com/nasradio-
show),eMagma Radio,doRio
(mixcloud.com/radiomagma).
“A curadoria de quemvaito-
carnarádio criarecortes espe-
cíficossobretemas que dificil-
mentevocêencontranostre-
aming. Num mundo em que
tudoépor algoritmo, botar a
escolhanamãode alguém é
quase umacontracultura”,diz
ThiagoArantes,umdos fun-
dadores daNaManteigaaola-
do do DJ CaioTabordaedopu-
blicitárioMarcelGuainaim.
Oprojetocomeçouem 2015
em uma pequena sala da Ga-
leria OuroFino,naruaAugus-
ta,por ondejápassaramDJs e
produtoresde diferentes es-
colas,origensepaíses.Éoca-
so doscoletivos Discopédia e
Feminine Hi-Fiehabitués de
clubes internacionaiscomo
DJ MarkyeLaurent Garnier.
Arádioémantida pelos fun-
dadoresepor parcerias pagas.
AVeneno operadesde outu-
brode 2018 ,emuma saletana
Vila Madalena.Aplataforma
também transmiteseus pro-
gramas sem interrupçãoem
sitepróprio.SegundoRico
Jorge, músicoquecomanda
oprojetoaoladodopesqui-
sador RafaelToledo,hácer-
ca de 30 mil acessos por mês.
Tabordaressaltaque os cus-
tosdeumarádio independen-
teonlinenemsecomparam
aos de uma difusoratradicio-
nal, quepodemincluir manu-
tenção de umaestruturapar-
rudaepagamentosaoEcad.
Toca-discos ou picapes, uma
mesa de som, umacâmerae
umcomputadorqueconecte
esse sistemaàinternet são su-
ficientes parabotararádiopa-
ra cima.ODJ estimaumvalor
máximo de R$ 5 mil paradar
umcomeço.“Se ocarafizeral-
go do quarto dele,comR$ 500
dá parafazer”, afirmaTaborda.
Atransmissão ficapor con-
ta de serviços de áudio,como
SoundCloud ou Mixcloud, ou
vídeo, comoFacebook Live e
Yo uTube.Nesse estágio,con-
tudo,voltaàcenaoenigmá-
tico eonipresentealgoritmo.
Essas plataformasrastrei-
am músicas e, ao identifi-
carumafaixa protegida por
direitos autorais,podemti-
raratransmissão do ar ou
eliminar gravaçãodisponí-
velparadownload. “ÉoSha-
zam do mal”,diz Taborda,
emreferência ao aplicativo
que pode identificarmúsicas.
Alimitação criou uma práti-
ca curiosa entreDJs: os sets à
provadealgoritmo. Seleções
maislapidadas, escolhas pou-
coortodoxaseartistas des-
conhecidos setornaram a
tônica.Aideiaéevitar músi-
casmuitopopularesetocar
faixas inexistentes ou pouco
acessadas na base de dados
dessesrobôs derastreamento.
Conflitoscomaregulação
vigentenão sãonovidadepa-
ra rádios de músicaindepen-
dentes.Anecessidade de uma
concessão pararadiodifusão
forçouacriação decentenas
derádios pirataspelo mun-
doatémeados dos anos 1990.
Se ainternet hoje parece in-
dissociável do oráculodo al-
goritmo,ela tambémfavore-
ceum maiorcontatoentre
projetosdoBrasiledomun-
do.“Existeuma grandecomu-
nidade derádios online,eto-
dostêmosmesmos proble-
mas queagente”,diz Taborda.

Eventodarádio NaManteiganorio Tapajós Divulgação

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