Folha de São Paulo - 02.10.2019

(Steven Felgate) #1

aeee



  • RubensValente


BRASÍLIAEm ação civilpúbli-
ca ajuizada em PortoAlegre,
oMinistérioPúblicoFede-
ralacusouopresidenteJair
Bolsonaro(PSL) decome-
ter“desvio de finalidade” ao
destituirenomear,emjulho,
quatromembros dacomis-
sãodogovernoresponsável
porreconhecer crimesdo
Estadoelocalizarcorpos de
militantes de esquerda desa-
parecidos duranteaditadu-
ra militar ( 1964 - 1985 ).
OMPF afirma queodecre-
to teve “vícios insanáveis”,co-
mo “motivação deficientee
inobservância do procedi-
mentoexigido paraoato”.
Em 29 de julho,incomo-
dadocomaçãodaOAB (Or-
demdos Advogados do Bra-
sil)emdefesa das prerrogati-
vasprofissionaisdoadvoga-
do de Adélio BispodeOlivei-
ra (portador de transtorno
mental quetentou mataro
entãocandidato àPresidên-
ciaem 2018 ),Bolsonaroata-
couopresidentedaOrdem,
FelipeSantaCruz.
Eledisse queopai deFe-
lipe,Fernando,integrou “o
grupo mais sanguinário e
violentodaguerrilha”em
Pernambucoeafirmou que
tinha informações sobreo
paradeirodele.Fernando,
em 1974 foisequestrado por
agentes darepressãoeper-
manece desaparecido.
SegundoaComissãoNa-
cional daVerdade, ele mor-
reusobtorturadias depois
de sua prisão.Não havia acu-
sação de que ele tivesse par-
ticipadodeatosterroristas.
Emreaçãoàafirmação de
Bolsonaro, no mesmodiaa
então presidentedaComis-
são Especial de MortoseDe-
saparecidos Políticos, vincu-
lada ao Ministério da Mulher,
FamíliaeDireitos Humanos,
aprocuradoradaRepública
EugêniaGonzaga, solicitou
àPresidência querevelas-
se que informaçõesopresi-
dentetinha sobreFernando.

Um dia depois,Bolsonaro
destituiu 4 dos 7 membros da
comissão,incluindoaprocu-
radora. Entreosnomeados
em seus lugares estavam um
deputadodoPSL-PR,Filipe
Barros, que elogiouogolpe
de 1964 ,eumcoronelrefor-
madodoExército, Weslei An-
tônio Maretti, que chamou
de “exemplo”umdosprin-
cipaisacusadosdetorturas
eassassinatosnaditadura.
OMPF ajuizouaaçãocivil
públicana 3 ªVaraFederal de
PortoAlegrenestasegunda
( 30 ). Ele pedeaanulação
do decretodas nomeações,
oque astornaria nulas,ea
declaraçãodenulidade dos
atospraticadospelos novos
membros dacomissão.
Napetição,osprocurado-
resmencionam entrevistada-
da porBolsonaroemagosto.
Indagado sobre arazão pela
qualdecidiu trocar os mem-
bros dacomissão,ele respon-
deu: “O motivoéque mudou
opresidente, agoraéoJair
Bolsonaro, de direita.Quan-
do eles botavamterroristalá,
ninguémfalava nada”.
Os procuradores aponta-
ramnaaçãocivil queopro-
cesso administrativoparaa
trocados membrosdaco-
missão estava paradodesde
maioesóvoltouaandar no
mesmo dia em queaentão
presidentedacomissãoco-
brou,ementrevistaàFolha,
explicações daPresidência.
“Há inegável desvio defi-
nalidade no decretoporque
oobjetivorevelado pelo che-
fe do Poder Executivo, em
entrevistaconcedida no úl-
timo dia 1 ºdeagosto, éin-
compatívelcomasfinalida-
des específicasbuscadas pe-
la comissão,asquais,como
se viu, transcendemadivi-
são do mundo entredirei-
ta eesquerda”, dizapetição.
“O trabalhodesenvolvido
pelacomissão nadatemde
ideológico, pois visa, antes
de mais nada,atenderaum
mandamentoconstitucio-
nal, legaleético, consisten-
te na buscapelo paradeiro
de desaparecidos emrazão
deatos cometidos pelo pró-
prioEstadobrasileiroduran-
te oúltimoregime deexce-
ção”,diz aaçãocivil pública.
Segundo os procuradores,
aCNVconcluiuque “das 243
vítimas de desaparecimento
forçado durante aditadura,
só 33 tiveram seuscorpos
identificados”. Assim, os tra-
balhos dacomissão devem
continuar,navisão deles.
Procurado,oMinistério
da Mulher,FamíliaeDirei-
tosHumanos informou que
opedido deinformações de-
veria “ser direcionado paraa
Advocacia-Geral daUnião”.
Leia mais sobreogoverno
Bolsonaronapág. B

poder


A12 Quarta-Feira,2DeOutubrODe 2019


Olivro“Nada Menos queTudo”,
doex-procurador-geralRodri-
goJanot,deseduca, desinfor-
maeofendeovernáculo.Traz
maisrevelações sobreofuncio-
namentodoaparelho digestivo
de sólidoselíquidos do doutor


do quearespeito damáquina
do JudiciárioedoMinistério
Públicoque chefiou por qua-
troanos. Contadois episódi-
os devômitoeum de gases.
Acerta alturadiz queosena-
dorRenanCalheirostinha uma


“supostanamorada”,quando


se sabeque eleteveuma filha
comasenhora.
AsmemóriasdeJanot desen-
cadearam um episódio chin-
frim porque,numaentrevista
apropósitodolivro,ele reve-
lou quefoiarmado ao Supre-
moTribunalFederal parama-
tarGilmar Mendes. (Essacena,
narradacomdetalhesnaen-
trevista, estácontadanolivro
deforma críptica, sem identifi-
caroministroque levaria um
tiro“nacabeça”. )Apedido do
doutor AlexandredeMoraes,

aPolíciaFederalfoiàcasa do
ex-procurador- geralnuma ope-
raçãodebuscaeapreensãoe
capturou sua pistola. Episódio
desnecessário,acompanhou o
estiloteatral dasmemóriasdo
ex-procurador.
Sucederam-se manifestações
de solidariedadeeespanto, tra-
duzidas pela professoraEloísa
Machado de Almeida: “O episó-
diocoroaamárelação entre
procuradores daRepúblicae
ministros do Supremo”. Aquilo
que poderiatersido umcon-

flitoemtorno do direitovirou
umconfrontodeantropófagos
comcanibais.Como escreveu a
professora: “O futurodaLava
Jatosempredependeudesua
própria integridade jurídicae
de seus membros. Aautorida-
de do Supremovemdalegiti-
midadeconstitucional de su-
as decisões. Por isso,agora,
ambos naufragam abraçados”.
Mais preocupado emfalar
bem de si, Janotexagerouna
seletividade da própria memó-
ria.Ainda assim, ele mostrao

momentoemqueoconjunto
da LavaJatocomeçouanau-
fragar.Em 2014 ,quandoaPro-
curadoria-Geralrecebeu um
lotededelaçõesvindasdeCu-
ritiba, Janotteriacomentado:
“Issotá uma merda, nãotem
nada.”
Ele sereferiaàsacusações
de AlbertoYoussefcontra Lula
eDilmaRousseff,“destituídas
devalor jurídico”.Como pro-
curador-geral,Janot poderia
tercontribuído paraordenar
os métodoseaqualidadesdas
delações. Eleeosprocurado-
respreferiamcavalgarapopu-
laridade de seus espetáculos.
Três meses depois, emfeve-
reirode 2015 ,oprocurador
CarlosFernandodosSantos
Lima,deCuritiba,dizia que
“oprocedimentodadelação
virou umcaos.(...)Oquevejo
agoraéumtipo de barganha
onde se querjogarparaapla-

teia, dobrar demasiadoocola-
borador,submeteroadvoga-
do, semrealmenteiremfren-
te.Não seifazernegociação
como sefosseumturco.” Aca-
bou aprendendo,mas essa é
outrahistória.
Em maiode 2015 ,oMinis-
térioPúblicoemCuritibafoi
confrontadocomduasdela-
ções conflitantes,naqualum
doscolaboradores oferecia-se
parauma acareação.Umdos
doutoresdisse que nãosede-
via mexernoassunto:“Esse éo
tipo decoisaque quanto mais
mexeupior fica.”Aoque um
de seucolegascompletou: “É
igual bostaseca:mexeu,fede”.
Desdeque os processos de
CuritibaedaProcuradoria-Ge-
ralchegaram àscortes supe-
riores afedentinatomoucon-
tada LavaJato, poisnão ha-
viacomo deixarabostaseca
intocada.

ex-procurador-geralexagerou na seletividade da própria memória



  • Elio Gaspari


Jornalista, autor de cincovolumes sobreahistória doregime militar,entreeles “a Ditaduraencurralada”


Janot mostrouocenário chinfrim


|dom.Elio Gaspari, Janio deFreitas |Seg.CelsoRocha deBarros |teR.Joel PinheirodaFonseca |quA.Elio Gaspari |qui.Fernando Schüler|Sex.Reinaldo Azevedo |SáB.Demétrio Magnoli



Oobjetivorevelado
pelo chefedo
Poder Executivoé
incompatívelcomas
finalidades buscadas
pelacomissão,as
quais transcendem
adivisão do mundo
entredireita
eesquerda

Ministério PúblicoFederal

Procuradoria quer anular


trocasdeBolsonaro em


comissão sobre ditadura



  • AngelaBoldrini e
    Ranier Bragon


BRASÍLIAACâmarados Depu-
tados aprovou, no final da noi-
te destaterça-feira( 1 º), otex-
to-basedo projetodelei que
fixa os limitesdegastos para
candidatosnas eleições mu-
nicipaisde 2020.
Após muita discussão,de-
cidiu-se pelos mesmosvalo-
resde 2016 ,apenascorrigi-
dos pela inflação.Com isso,
candidatosàPrefeiturade
SãoPaulo, porexemplo,po-
derãogastar no ano quevem
mais de R$ 50 milhões—va-
lor que superamontantes de-
clarados paradisputasàPre-
sidência daRepública.
Em 2016 ,ovalor máximo
permitido paraascampanhas
paraocomando dacapital
paulistafoi de R$ 45 , 4 mi-
lhões.JoãoDoria (PSDB), que
venceuopleitojánoprimei-
roturno,declaroutergasto
R$ 13 , 6 milhões.
Naseleiçõespresidenciais
de 2018 os doiscandidatosque
foramaosegundoturno,Jair
Bolsonaro(PSL) eFernando
Haddad (PT), declararamres-
pectivamente,gastos de R$ 2 , 5
milhõeseR$ 37 , 5 milhões.


ACâmaraaindavotava,na
conclusão destaedição,noco-
meço da madrugada de quar-
ta ( 2 ), os chamados destaques,
que sãopropostas de altera-
ções pontuais dotexto.
Oprojetoaindatemque ser
aprovado pelo Senadoesan-
cionado porBolsonaroaté a
próxima quinta-feira( 3 )pa-
ra valer nas eleições munici-
pais de 2020.
Isso porque mudanças na lei
eleitoral precisam seraprova-
dasatéumano antes da data
do primeiroturno paraque
tenhamvalidade já naelei-
çãoseguinte.
Casoocronograma não
prospere,opleitodoano que
vempode ficar semaregula-
mentação de umtetodegas-
tos—ficandoacargodaJus-
tiçaEleitoral,eventualmen-
te,definir limites.
Deputadostentaram apro-
varlimites menores, deaté
R$ 7 milhões paracandida-
tosaprefeito, masessapro-
postafoi derrotada.
Otextoaprovado estabe-
lece aindatetopara quecan-
didatospossam financiar su-
as própriascampanhas. Essa
medida visacorrigir distorção
quetemdado enormevanta-

gemacandidatosricos sobre
os demais.Olimiteexato pa-
ra oautofinanciamentoainda
estavasendodiscutidopelos
parlamentaresatéàs 23 h 40
destaterça.
Aprimeiraversão dotex-
toincluía outras mudanças
na leieleitoral,comoapro-
ibiçãototaldeconteúdo im-
pulsionado na interneteoau-
mentodonúmeromáximo de
candidatos.
Essas mudanças, porém,fo-
ramretiradas após apelos de
líderes partidários ao presi-
dentedaCasa, deputadoRo-
drigoMaia (DEM-RJ).
Desde que as empresasfo-
ramproibidas defazerdoa-
ções eleitorais, em 2015 ,ofi-
nanciamentodos candidatos
sai doscofres públicos (fun-
dos que distribuirão pelo me-
nos R$ 2 , 7 bilhões em 2020 ),
de doações de pessoas físicas
(emmuitoscasosexecutivos
de empresas sãoessesdoa-
dores)edobolso dos própri-
os candidatos.
Nasúltimas eleições muni-
cipais, em 2016 ,vigorouare-
gradequecadacandidato a
prefeitoouvereador pode-
riagastar no máximo 70 %do
valor da eleição maiscara de

suacidade quatroanos antes.
EmSãoPaulo, otetoficou
em R$ 45 , 4 milhõesparacan-
didatos aprefeito(no primei-
ro turno)eemR$ 3 , 2 milhões
para candidatosavereador.
Essaregrafoi revogada pe-
la minirreformaeleitoral de
2017 ,quedefiniutetospara
as eleições de 2018 ,mas não
para as de 2020.
Nasúltimas semanas,de-
putadosesenadores secon-
centraram navotaçãodealte-
rações na legislação eleitoral,
mas apenasempontos para
reduzir obrigações,controle
epunições sobrepartidos e
candidatos.
Apósfortepressãocontrá-
ria, oscongressistas abando-
naram alguns pontos,man-
tendo,contudo, alguns que
dão maisbrechasàprática
decaixa dois.
Naúltimasexta( 27 ),opresi-
dente Bolsonarosancionou o
projetocomvetos, mas man-
teve alguns pontos polêmicos,
comoapermissão paraque
partidosusemverbas públi-
casparaadquirir bensepara
pagarsem limites advogados
econtadores.Segundoespe-
cialistas,issopodedar mar-
gemacaixa dois.

Câmara aprova limitede


gastos paraeleição de 2020


Proposta, que vai ao Senado,precisa ser sancionada atéestaquintaparavaler


Deputados no plenárioduranteasessão destaterça(1º) Luis Macedo/Câmarados Deputados

Free download pdf