Folha de São Paulo - 02.10.2019

(Steven Felgate) #1

aeee


mundo


A18 Quarta-Feira,2DeOutubrODe


China cresce como potência, mas ainda está atrásdeeUaedaRússia

Fontes:InstitutoInternacional deEstudosEstratégicoseFederaçãodosCientistas Americanos

China EUARússia

Modernização de
forças,base
industrial eárea
tecnológicaavançada

Maiorforça militar
do mundo,base
industrialmais
avançada

Vanguarda em
mísseis edefesa
aérea,poderio
nuclear

Material ainda
obsoletoem sua
maioria,doutrina
militaraindaincerta

Compromissos
demaisenfraquece-
ramalgumas áreas,
como mísseis
hipersônicos

indústria ainda
sofrecom
dificuldades
econômicas

Pontos
fortes

Pontos
fracos

Tropas

Orçamento
militar
2018 ,US$ bi

168 , 2 643 , 3

70

300

400 334

63 , 1

2 , 035 milhões 1 , 36 milhão 900 mil

Mísseis
intercontinentais

Ogivasnucleares
ativas

Tanques

Peçasde
artilharia

Aviõesde
combate

Submarinos
estratégicos

Porta-aviões

Destróieres

1. 7501. 600

5. 800

8. 954

2. 4132. 4731. 440

6. 8634. 702

2. 8332. 750

4

27

65

16

11
11

14
10

Polícia atiraemativista em ato em Hong Kong


No dia dacelebração dos 70 anos darevolução Chinesa, arma defogo éusada pela1ªvez em atual onda de protestos



  • João Perassolo


sãopauloUm estudantede
ensino médio de 18 anosfoi
baleadoàqueima-roupa por
um policial duranteprotesto
em HongKong nestaterça
( 1 º), dia em queaChinacele-
brou os 70 anos do início de
seuregimecomunista.Foia
primeiravez queforças de se-
gurançaatiraramcommuni-
çãorealcontramanifestantes
desde queaonda de protes-
tosseintensificou, em junho.
Otiroteriaatingidoojo-
vempertodeseu ombroes-
querdo, segundoapolícia.De
acordocomosite de notícias
South ChinaMorningPost, no
entanto, abalaatingiuopul-
mão do jovemeele teve coste-
las fraturadas. Ainda segundo
apublicação,não houveferi-
mentovascular mais gravee
não há riscode morte.
Imagens deTVlocal mos-
tramomomentoemque um
agenteapontaedisparaapou-


coscentímetros do peitodo
ativista, identificadocomo
ZengZhijian, no bairro deTsu-
enWan. Em seguida,oestu-
dante, acusado deatacaros
guardas juntoaoutros mani-
festantes,foi atendido nacal-
çadaelevadoconscientepara
ohospitalQueen Elizabeth.
“Policiaisalertarampara
que eles parassem, mascon-
tinuaramaatacarviolenta-
menteapolícia. Agentes, cu-
jas vidas estavam sendoseri-
amenteameaçadas, dispara-
ramdemodoaprotegerasie
aoscolegas”,disseYolandaYu,
superintendentedapolícia.
Ela acrescentouqueapolí-
cia não quer que ninguém se
machuqueeclassificouoepi-
sódiocomo dolorido,embo-
ra ocomissário de polícia Ste-
phen LoWaiChungtenha di-
to àBBCqueadecisão deati-
rarfoi “legalerazoável”.
Ocaso aconteceuenquanto,
em Pequim, milhares de solda-
dos marchavamparacelebrar

os 70 anos daRevolução Chi-
nesa.Oepisódio marcouum
dos diasmais violentos desde
que protestos pró-democra-
ciaganharamfôlego—Hong
Kong viroucena de batalha.
Manifestantes fizeram bar-
ricadas,atearamfogoem pi-
lhasdepapelão,atiraram tijo-
losecoquetéismolotovcon-
traosagentesequeimaram
abandeira chinesa, além de
zombaremdospoliciais.
Também espalharamfeijões
no chãoparadificultaroavan-
çodasforças de segurança.
Osguardasresponderam
combombas degáslacrimo-
gêneo, balas de borrachaeca-
nhões de água. Houve 180 pri-
sõeseaomenos 51 feridosfo-
ramhospitalizados, dos quais
doisestãoemestadograve.
Dolado da polícia, 25 oficiais
sofreramferimentos.
Osconfrontos ocorreram
em diversas partes doterritó-
rio,incluindo CausewayBay,
principal distritocomercial,

eAdmiralty,onde há prédios
dogoverno,comoasededo
Legislativo, quefoievacuada.
Diantedelojasfechadas, os
manifestantes gritavam pala-
vras de ordemcomo“apoio a
HongKong,vamos lutar pe-
la liberdade”.Das 90 estações
de metrô, 41 foramfechadas.
Nosgrupos deTelegram
—usado pelos manifestan-
tespor permitir que usuários
adotem pseudônimos—,no-
tícias da mídia de HongKong
são divulgadascomoaler-
ta “NãoéoDia Nacional, so-
menteoDia do LutoNacional”.
ÀFolhaativistas afirmam
queoprotestodestaterça foi
maistenso do que os anteri-
ores.Bosco, 16 ,que partici-
pa dosatos há quatromeses,
afirma queapolíciatemusa-
do mais armaseque, antes, os
agentes “simplesmentesaíam
de seuscarrosedisparavam
gáslacrimogêneo”.
Oativista também diz que
osagentescontinuamagre-

dindoos manifestantes mes-
mo após as prisões,oque não
costumava ocorrer.
D.,estudantede 21 anos,
contaque no distritodeKow-
loonapolícia nãoavisou an-
tesdedisparargáslacrimogê-
neo. Pelo procedimentocorre-
to,uma bandeiracom osdize-
res“dispersem ouvamosati-
rar” deveriatersidomostra-
da. “Eles simplesmenteen-
traram,dispararamesaíram.”
Por outro lado,ele reconhe-
ce que os manifestantestam-
bémtêmsua parcela deres-
ponsabilidade na escalada de
violência dosconflitos.
“A políciausa forçaexcessi-
va,e,emresposta, osativis-
tasutilizamcoquetéis molo-
tovoutentambaternos ofi-
ciaisde segurança.”
Oprotestodesta terça( 1 º)
havia sido proibido pelas au-
toridades.Apolícia acusouos
manifestantes de usar um lí-
quidocorrosivonaregião de
Tuen Mun,oqueteria machu-

cado policiaisejornalistas.
NaChinacontinental, du-
ranteseu discursoànação,
odirigentechinês Xi Jinping
botou panos quentesnacri-
se comoterritório.
“Avançando paraofutu-
ro,precisamos manter nos-
socompromissocomapro-
messadereunificação pacífica
ede‘um país, dois sistemas’”,
disse,referindo-se ao acordo
firmadocomoReino Unido à
épocadadevoluçãodeHong
KongàChina, em 1997.
Situada em uma península,
HongKongtemsistema polí-
ticoejurídicodiferente, com
liberdades civisque nãoexis-
temnoresto do país.
Nosúltimos meses,aon-
da de protestos adotou uma
ampla agenda pró-democra-
cia.Desdeque chegou ao po-
der, em 2013 ,Xivemaumen-
tandoarepressãodoregime
sobreminoriaseminando a
independência de HongKong.
Com aFP

Manifestanteécontido porpoliciais em protestodeHongKong NicolasAsfouri/AFP Políciatentaconter participantes de protesto,quefalamemescalada de violência NicolasAsfouri/AFP


análise



  • Igor Gielow


sãopauloAChina de Xi Jin-
ping viveu seu dia de União So-
viéticanestaterça ( 1 º), quan-
do promoveuomais vistoso
desfile militardesua história
recenteparacelebraros 70
anos da fundação do moder-
no Estadocomunista.
Apósanosapostando em
“soft power” enopoderio de
suaeconomia, que deixou um
estágio quase medievalnos
anos 1940 parachegaraopos-
to de segunda maior potência
do mundo,aditaduradesta
vezresolveufazerumshow
de militarismo.
Isso enquantoacrisecom
os protestosemHongKong
recrudescia,comoprimei-
ro feridoabala pela polícia.
Xi emulou antigos líderes
soviéticos e, paraficarnuma
versãoatualcomgostodepa-
ródia, oscoreanos da dinastia
comunistaKim ao longodo
personalistaevento.
Desfilessemelhantesanteri-
ores sempretiveram esseca-
ráter, mas duascoisasdiferen-
ciaramoshowdestaterça:o
escopoeosentido do tipo de
armasexibidas em destaque.
OExércitodeLibertação
Popular,comoasForçasAr-
madas chinesassãochama-
das,colocou mais de 160 ae-
ronavese 580 armamentosdi-
ferentes em Pequim.
Nada menos que umterço
de suaforçademísseis balís-
ticos intercontinentais esta-
va na parada,segundo obser-
vadores militares,eumnovo
modelo destinadoaassustar
os rivais emWashingtonfez
sua estreia pública:oDF- 41.


Éumtipo de míssil que só
aRússia, entreosadversári-
osdos EUA,tinhaatéaqui. É
lançado de bases móveis,difi-
cultando sua detecçãoeanu-
lação emcaso deataquereta-
liatório pelos inimigos,etem
um alcanceestimado ematé
15 mil quilômetros.
Com isso,podeatingir qual-
queralvonos EUA, enão ape-
nasacostaoeste do país,co-
mo as armasatuais permi-
tem. Com dez ogivas nucle-
ares independentes, triplica
acapacidade de alvos possí-
veis doatual DF- 31.
JuntoaoDF- 41 estavaoDF-
17 ,umplanadorhipersônico
que integraoinventário das
chamadas armas do futuro.
Trata-se de umveículo ar-
madocomuma bombaatô-
micalançado por um míssil
balísticonormal,mas que se
desprendeaaltitudes meno-
resdoque as ogivas nuclea-
resconvencionais.
Mais que isso,ele pode ma-
nobraravelocidades 20 vezes
maisrápidas queosom,tor-
nando sua interceptação qua-
se impossível.
Éotipo de armaqueaRús-
sia de VladimirPutintempro-
pagandeadoàexaustão nos
dois últimosanos,eéconsen-
so que os EUAestãoatrásnes-
ta corrida específica.
Naturalmente,nada disso
fazaChinauma potência mi-
litar maiscapazque os EUA,
que de longesãooúnicopa-
ís capaz de projetarseu poder
mundo afora.
Mesmo na área nuclear,Pe-
quimtemestimadas 300 ogi-
vase 70 lançadores, ante 1. 750
ativas e 3. 800 estocadas pelos
americanos, quetêm 400 mís-
seis intercontinentais.

China de Xi vive seu dia de


União Soviéticacom desfile


exibicionistaepersonalista


Russostêm 1. 600 ativas e
4. 330 em estoque,segundo
aFederação dosCientistas
Americanos. E 334 mísseis pa-
ra levá-lasaseus alvos em ou-
troscontinentes.
Aparada indica,noentan-
to,uma nova postura,mais as-
sertiva.Naárea naval, os chi-
neses estãoconstruindo três
porta-aviõesedesenvolven-
do drones supersônicos, es-
tesexibidos nestaterça.
Asaeronavesnão tripuladas
servem paraajudaralocalizar
alvos noPacífico, àdistância,
facilitandoavida de armasco-
mooDF- 17.
Ooceanoéapontado por
analistascomoopalcoonde,
talvez num futuronãotãodis-
tante, EUAeChina se enfren-
temdefato—há quemtema
uma aliançahoje embrioná-
ria entreMoscouePequim
nesse embate.
Os chineses estão militari-
zando ilhotas no mar do Sul
da China, uma área que cla-
ma parasi, eosamericanos
contestam isso.
A“sovietização”,por assim
dizer,doestiloXinão ficou vi-
sível sónasruas.
Olíder completouomovi-
mentode 2017 ,quandoga-
nhouodireitoàreeleição sem
limitesetevesua doutrina de
afirmação nacionalincrusta-
da na Constituição chinesa,
dandoumcaráter persona-
listaaoregimequehaviasi-
do diluído pelorevolucioná-
rioDeng Xiaoping ( 1904 - 97 ),
opai do modelo chinês deca-
pitalismo em uma ditadura
comunista.
Simbolicamente,naabertu-
ra do desfile, Xi abandonou o
tradicional uso deternos ao
estiloocidentaleenvergou
umatúnicaaoestilo doslíde-
reschineses da eradopai da
nação,MaoTse-Tung.
Tudocompletocom uma
enormefotosua levada em
parada duranteoevento, no
melhor estiloJosef Stálin, dita-
dor soviéticomorto em 1953.
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