Folha de São Paulo - 02.10.2019

(Steven Felgate) #1

aeee


opinião


Quarta-Feira,2DeOutubrODe2 019 A

erramos
[email protected]

Lula
“Luladiz quenãoaceita‘barganha’
paradeixaraprisãoedesafia Lava
Jato”(Poder, 1 º/ 10 ). Procuradores
requerendo emfavordoréuapro-
gressão deregime.Réunegando o
direitoàprogressão.Ações anor-
maiseinéditas, mas lances políti-
cosinteressantes,carregados de
outrasintenções.Àpobreza in-
telectual do direitocontrapõe-se
ariqueza da política. Sãocompa-
nheiroscadavezmais inseparáveis.
OscarMellim Filho(Campinas,SP)

*
JucaKfouri (“Lulalivre”,Tendênci-
as/Debates, 1 º/ 10 )escolheudefen-
der um políticoresponsávelpelo
maior sistema decorrupção já vis-
to no país. Em linhasgerais, consi-
deraLula um herói épico, queresis-
te bravamenteàinjustiçacometi-
dacontrasi. Mesmo que aceitemos
ele jamaisterenfiado no bolso um
centavodeforma irregular,como
presidentefoi de uma incapacidade
antológicaaodesgovernaropaíse
não enxergaroque acontecia nos
oitoanosemque ocupouocargo
e, indiretamente, no período Dil-
ma.Deixou uma herançamaldita.
LaércioZanini(São Paulo,SP)

*
Lulaéumpreso políticoenada
mais. Condenaram-no sem pro-
vas, apenascomdelaçõespremi-
adas, reconhecidamentefajutas e
usadasparacondenar Lulaeou-
tros. Essaturma de Curitiba não
passa de um bando de justiceiros.
Luiz Rancan(brasília,DF)

Janot
Que anarquia setornou estepaís,
no qual somos obrigadosaouvir
todo tipo de asneira. Emboranão
tenha lido seu livro, trechos publi-
cados pela mídia deixam claroque,
fosse euum“condenado” porele,
pediria anulaçãodasentença, pois
váriosatos oficiais, em diferentes
processos,foramconfessadamente
feitos soboefeitodoálcoolda“far-
macinha”existentepor lá.
Fernando MárioReisAraújo
(SãoPaulo, SP)

*
Absolutamentecorretooenten-
dimentodoadvogadoLuiz Carlos
Guimarães Brondi (Painel do Lei-
tor, 1 º/ 10 ). Ninguém pode ser pu-
nidopor simplesmente pensar em
cometer um crime.Punidos devem
sertodos os quetungaram osco-
fres públicos, são mantidos nocar-
goecontinuamrecebendo benes-
sesdogoverno.
MaurílioPolizello Junior
(ribeirãoPreto, SP)

Argentina
Estánamodafalar mal da esquer-
da no Brasil, masépreciso dizer
queogovernoMacriédedireita,
enquantoaBolívia, de esquerda, vi-
ve as maiorestaxas de crescimento
docontinente americano (“Pobre-
za na Argentina chegaa 35 %ebate
recordenogovernoMacri”, 1 º/ 10 ).
ClemersonAraújo(rincão,SP)

Jureia
Écomconsternação que acompa-
nhootemadaJureia, um dos mais
importantes depositários da me-
gadiversidade da mata atlânticae
símbolo do movimentoambien-
talista.Saltam aos olhos asrazões
de enfraquecimentodaunidade
deconservaçãopor meio do mo-
vimentodeocupação,que se uti-
liza de artifícios que agridem sua
própriacondiçãoconstitucional,
buscando beneficiar um pequeno
grupo em detrimentodasocieda-
de.Oartigo“Jureia:umpatrimô-
nioameaçado” ( 29 / 9 )trazluz ao
temaeexpõe os interesses por trás
da irregularidade, uma afronta aos
marcoslegaiseàsbasesde diálo-
goconstruídas naregião.
AngelaKuczach,diretorada
rede NacionalPró-unidadesde
Conservação(Curitiba, Pr)

Bolsonaro
“‘Interesse naAmazônianãoéno
índio nem na porradaárvore’,diz
Bolsonaro” (Ambiente, 1 º/ 10 ). Um
presidente quenãotempostura,
nãorespeitaocargoqueocupa e
usa um linguajar chulo,comose
estivesse no seu meiofamiliar.Bol-
sonaropercebeu que,quando age
assim, dizendo seuspalavrões, sua
visibilidade aumenta e, portanto, a
famíliabrasileiraque se lixe.
José William(Fortaleza, Ce)

*
Gostaria de dizer aoexcelentíssi-
mocapitão-presidentequeomi-
nério da Amazônia, desdeofinal
da década de 1950 ,édos america-
nos, dos europeus, dos australia-
nosedos japoneses: SerradoNa-
vio(AP),Serrados Carajás(PA), Va-
le doTrombetas(PA)eoutras áreas
poucoconhecidas,ondeexploram
ouro, cassiteritaeatéonióbio.
GildázioGarcia(ipatinga,MG)

*
Vi, emRondônia,cada balsa ou
pontodeextraçãodeminério ser
comercializado porRS 250 mil.
Osgarimpos sãocontrolados por
gângsteres, que deixam umrastro
de destruiçãoedecontaminação
por mercúrio.Quetalenviar um
peixecontaminado por mercúrio
ao presidente? Afinal,éoquevai
sobrar para apopulação local.
Luciano Neder Serafini
(ribeirãoPreto,SP)

Punitivismo
Sobreacoluna“Vítimas inocentes”,
dePablo Ortellado (Opinião, 1 º/ 10 ),
oque mais me impressionaeintriga
na natureza humanaéavingança.
Se somosfalíveiseerramos,como
qualquer um,por quetemos essa
ânsiapunitiva, essedesejodeque
pessoas quetenham errado sejam
atécondenadasàmorte?
JoséDieguez(São Carlos, SP)

Licença-maternidade
AFolhatrouxe entrevistanaqual a
ministraDamaresdefende,emno-
me da “proteçãoàfamília”, aexten-
são da licença-maternidade (“Da-
mares Alves defende aumentoda
licença-maternidade paraumano”,
Cotidiano, 29 / 9 ). Uma licençatão
extensa significariaaretirada das
mães do mundo profissional. Uma
solução mais igualitária seria di-
vidir esse ano de cuidado entreo
paieamãe.Dequebra, as mulhe-
respoderiam praticaragenerosi-
dade deconceder aseus parceiros
aoportunidade de cuidar das cri-
ançasedoseuentorno.
TelmadeSouzaBirchal,professora
do DepartamentodeFilosofiada
uFMG (belo Horizonte,MG)

Leitura
Notexto“Jovens leem mais no Bra-
sil, mas hábitodiminuicomaida-
de” (SemináriosFolha, 28 / 9 ), são
apresentadasconsideraçõesamim
atribuídas sobreaformaçãodelei-
toresemcontexto escolar,mas o
tomeostermos empregados nem
semprecondizemcommeu ponto
de vistasobre oassunto. Demodo
nenhum defendoaideia de “expul-
sar”ocânone da sala de aula, mas,
sim, que as obras literáriascanôni-
cassejam abordadas emcontínuo
diálogocomtextos usualmentefru-
ídos pelos alunos em seu universo
cultural de origem.
João Luís Ceccantini,professor
de literatura brasileirana
unesp (São Paulo, SP)

Arminha
Emrelação às notas “Deu nó” e
“Desnecessário” (Painel S.A., 29 / 9 ),
aAssociaçãoNacional da Indústria
de ArmaseMunições (Aniam)gos-
taria deressaltar que não se mani-
festouarespeitodogestodode-
putado EduardoBolsonarodian-
te de um monumentopela paz em
NovaYork.
Mariana Nascimento,assessorade
comunicação da aniam(São Paulo, SP)

ILUSTRADA(30.SET.,PÁG.C1)Dife-
rentementedopublicado nare-
portagem “História em ruínas”,o
títulocorretodado pela Unescoa
conjuntosnaturaiseculturaisco-

mocomoacidadedeOuroPreto
éPatrimônio Mundial.Oapêndice
“da Humanidade” serefere somen-
te aosreconhecimentos de patri-
mônio imaterial.

PaINeLDoLeITor


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Cartasparaal. barãodeLimeira, 425, São Paulo,CeP 01202-900. aFolhase reserva o
direitodepublicar trechos das mensagens. informe seu nomecompletoeendereço

Em 20 de setembrode 1519 opor-
tuguêsFernão deMagalhães par-
tiu deSanlúcar deBarrameda, na
Espanha,paraaprimeiraviagem
de circum-navegação. Essaexpedi-
çãoprovou, na prática, queoplane-
ta éesférico. Nãoé,evidentemente,
umadataaser comemorada pelos
povosindígenas, já que as Grandes
Navegações foramamaiorcalami-
dade que se abateusobrenós.
Só lembroadatapor umarazão:
passados 500 anosredondos, pes-
soas queaindaacreditam queaTer-
ra éplana queremnostutelar; que
genteque negaaexistência das mu-
danças climáticas, diantedetantas
evidências, pensaque sabeoque é
melhor paranós.Sedeixarmos nos
guiar por essaturma que parou no
tempo,sónãocairemos pela borda
doglobopor motivos óbvios.
Os europeus do século 16 se lan-
çaramaomar paraconfirmar em-

piricamenteoformato do planeta.
Nós, indígenas, não precisamos sa-
ir de nossasterras para comprovar
aexistênciadeumdesequilíbrio no
clima. Entretanto, nossoconheci-
mentoé,damesmaforma, prático.
Ao longodos anosnotamos asvari-
açõesnos ciclos da chuvaenocom-
portamentodos animais, sentimos
na pele asvariações natemperatura.
Vivemos emcontatocomanature-
za, não em uma selvadepedra.Ho-
je háconsenso entreaspessoas sen-
satasdequeoverdeéfundamental
paraconteroavançodas mudanças
climáticas. Nossosterritórios sãoos
mais preservados e, logo, onossoco-
nhecimentoénecessário.
Duranteacampanhaeleitoral,o
atual presidentedisse quesua in-
tenção eraqueopaísvoltasseaser o
que era“há 40 , 50 anos”.Éprecisore-
conhecerque ele estáseesforçando
parachegar lá; masoresto do mun-

donão poderiadar este grande sal-
to paraopassado nem se quisesse.
Dosanos 1970 para cá oplanetaso-
freu estragosconsideráveis. Danos
quenão poderiam serprevistos na-
quelaépoca,mas que hojeaciência
comprova; prejuízos nãopodem ser
revertidos por decreto.
Convémlembrar queacobiça eos
erros deFernão deMagalhães ole-
varamàmorte.Devidoaessa polí-
ticaretrógrada,oBrasil abriu mão
de sediaraconferênciaclimáticada
ONU (COP 25 )desteano.Oencontro
seráemSantiago, no Chile, em de-
zembro. Fomosconvidadosaparti-
cipar de uma série deeventos prepa-
ratóriosque serealizaramnos Esta-
dos Unidos—omais importante de-
leséoClimate Action Summit.Não
fugimosàresponsabilidade.
Ospovostradicionaisprotegem
umterçodas florestas tropicais do
planeta. Por isso nossa importân-
ciafoireconhecidanoúltimorela-
tóriodoPainelIntergovernamental
sobreMudanças Climáticas (IPCC).
Odocumento, lançadoemagosto
por especialistas detodoomundo,
afirma quegarantironosso direito
àterraéuma das ações mais efica-
zesparaqueahumanidadevença
essa crise.Nãoprecisamos detute-
la enãotemosaintenção de pajear
ninguém. Estamos,sim,dispostos
aajudar. Sabemos quealutaago-
ra nãoésomentepornossos direi-
tos, maspela sobrevivência da es-
pécie humana.

EstaFolhausou, no últimodomin-
go ( 29 ), seu espaçoeditorial parame
criticar por suposto pedidodecen-
suraàpublicaçãode um sitenain-
ternet.Otextoclassificanossa ini-
ciativa como “fundamentalista” e
me acusa decolocar minhas “con-
vicções religiosasàfrentedos obje-
tivos da políticapública”.
Primeiramente, quero esclarecer
quenãoháumalinhasequer nope-
didodoMinistério da Mulher,daFa-
míliaedos DireitosHumanosàOu-
vidoria do MinistérioPúblicodeSão
Paulo que soliciteretirar do arapu-
blicação.Solicitamosapuração so-
breeventualcometimentodeirre-
gularidade.Nada mais.
Vamosaoutrosfatos.Nãoques-
tioneiaopiniãodarevistasobrein-
terrupçãoprovocada dagravidez,
masaformacomo apresentaram
otema. Entreoutrascoisas, elaex-
plica como setomaomedicamento
abortivoesequer deixar clarosobre
as consequênciaseosefeitoscolate-
rais.Háriscorealdapropagaçãode
informação,que poderiacolocar em
riscoavida de meninas.Nenhuma
defesaideológicavale isso.
Deiumexemplo que acaboure-
tiradodaedição da entrevistaque
concediàFolhaeaoUOL,também
nodomingo( 29 ), que ilustrabem a
questão.Imaginemse,sobopretex-
to deexplicarcomofuncionaaauto-

mutilação, umareportagem peça ao
adolescentequetomecuidado para
nãocortar essa ou aquelaveia, sob
riscodepassar do pontoecometer
um suicídio acidental porhemorra-
gia.Aintençãoéboa.Mas só imagi-
nem quantos novoscasos de suicídio
bem-sucedidosedeautomutilação
surgiriamapartir detalreportagem.
Agoratragaisso paraumarepor-
tagemque ensinaexatamenteco-
motomaromedicamentoaborti-
vo.Quantasadolescentes quenão
queremcontar aos pais que estão
grávidas seguiriamexatamente, e
clandestinamente,areceitaapre-
sentada nareportagem? Quantas
irão morrer nesseprocesso?
Vãoalegar que minha posição é
ideológica.Eéverdadeque em di-
versasfalas peranteorganismos in-
ternacionais deixei claroqueoatu-
al governoédefensor da vida desde
aconcepção.Queremos salvar aos
dois, mãeebebê.Edefendemosque
oEstado deve investircadavezmais
em políticas de planejamentofami-
liar eacolhimentoàmãe que decida
levaradianteasua gravidez.
Masébom deixarclaro que, nes-
te caso,nossoposicionamentonão
éteológicoousobreconvicções. É
sobreprevençãoamortes por abor-
tosmalsucedidos.Ésobre veículos
decomunicaçãoteremaplenacons-
ciência sobreaformacomo apresen-

tamtaisconteúdos.Ésobrealertar
dosexcessos sem,contudo,ferir os
direitosconstitucionais.Pedimos
ponderação.Somente.
Ébom deixar claro:respeitoede-
fendoaimprensalivre,fundamen-
talàdemocracia.Oatual governoto-
mou medidasparagarantirisso,co-
mo naedição do decreto 9. 937 / 2019 ,
que incluiu ambientalistasecomuni-
cadorescomo beneficiários doPro-
grama deProteção aosDefensores
de Direitos Humanos. Sim,ogover-
no protegejornalistas deeventuais
ameaças. Entendemosaimportân-
ciasocial do jornalismoeagarantia
dequeprofissionaisexerçamaati-
vidadesem ameaças. Algumas enti-
dades não entenderam isso e, num
rompantecorporativista, apressa-
ram-se em mecondenar sem,con-
tudo,perceber algoqueéfundamen-
talemtoda essa história.Aimpren-
sa éfeitapor pessoase, por issomes-
mo,estásujeita aerros.
Ahistóriarecenterevela diversos
casos de imprecisões jornalísticas
que custaramreputaçõese,por que
não dizer,vidas.Areparação nunca
vemcomamesma proporção. Eisso
quando ocorre, pois háresistência
de algunscomunicadores em admi-
tirem que erraram.Éumambiente
competitivo. Quem erramaistem
dificuldadesdemanteracredibili-
dade. Consigoentender isso.Mas é
preciso mudar esseconceito.
Soucontraqualquer tipo decon-
trole alémdaquele jáexistentepe-
lo Judiciário,prevendoareparação
de quem ficou prejudicado.Sem
censuraprévia,oque esperoéuma
imprensacadavezmais livre, mas
tambémcadavez maiscrítica sobre
aprópriaatividade.Edefendo que
atoresexternos possam, sim, aler-
tarquando ocorreremexcessos. Es-
te éocaminhoparaaconstrução de
umasociedademaisjusta euma im-
prensa maisforte.

Nãoésobre


liberdade de imprensa


Sabemoscombater as


mudanças climáticas


TeNDêNcIas/DebaTes


folha.com/tendencias [email protected]
Os arti gospublicadoscomassinaturanão traduzemaopinião do jornal. Sua publicação obedeceaopropósitodeestimular
odebatedos problemas brasileirosemundiaisederefletiras diversastendências do pensamentocontemporâneo


  • Damares Alves
    MinistradaMulher,daFamília edos Direitos Humanosepastoradaigrej aevangélica da Lagoinha(MG)


  • Dinamam Tuxá
    Coordenador-executivo da articul ação dos Povos indígenas do brasil(apib); ex-int egrantedaaliança Global
    de Comunidadesterritoriais, coletivoformado por indígenasdebrasil, indonésia, américaCentraleCaribe




Troche

Direitodos índiosàterraéação das mais eficazes


trata-se apenas de prevençãoaabortosmalsucedidos

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