opinião
mostrar que os carros são mais rá-
pidos. Mas a verdade é que, quando
as pessoas que têm Bentley e Ferra-
ri querem ir à Toscana, Cannes ou
Gstaad, elas vão de avião. Frequen-
temente, em um jato particular. E se
quiserem ir a Paris, tomam o trem.
As pessoas que de fato cruzam o
continente de carro para ir ao seu
destino de férias têm todas elas de-
sanimadores Hyundai com baga-
geiros de teto e desnecessários ade-
sivos GB (Grã-Bretanha). Um cara
até pintou seus faróis de amarelo,
como se ainda fosse 1968. E nenhu-
ma delas tem a menor ideia sobre
o que significa se manter na faixa.
Sim, eu sei que a faixa da direita de
uma autoestrada francesa no verão
é uma esteira transportadora de ho-
landeses com seus trailers, mas só
os britânicos veem isso como des-
culpa para dirigir no baixo limite de
velocidade usado no Reino Unido
pela faixa da esquerda. Para sempre.
As pessoas que escrevem para
aquelas revistas de automóveis que
costumam existir nas salas de visi-
tas de dentistas frequentemente se
referem à “habilidade de devorar
continentes” de um carro potente.
Todos têm na cabeça que as pessoas
compram um Bentley Continental
GT ou uma Ferrari GTC4Lusso por-
que precisam de alguma coisa que as
leve de Londres a Milão da maneira
mais rápida e confortável possível.
Eu mesmo tenho minha culpa
nisso. Na TV, várias vezes organizei
corridas entre carros e aviões, para
É jornalista,
apresentador do
programaThe Grand
Tour e celebridade
amada pelos fãs
e odiada por
algumas marcas
jeremy
clarkson
O Ford Mustang conversível me fez lembrar
do tempo em que cruzar a Europa de
carro era uma coisa romântica
Máquina do tempo
112 quatro rodas dezembro
P
ara as férias da família des-
te ano, aluguei uma casa na
Dordonha (França) e decidi-
mos todos ir de carro. Não foi tão
mau para meu filho, que tem um
Fiat 124 Spider, nem para minha
filha mais velha, cujo carro é um
Ford Fiesta ST. Mas a caçula tem
um VW Polo básico, de 9 cv. Sua
passageira ligou quando elas esta-
vam a meia hora de Calais. “Esse
limite de 150 milhas por hora (210
km/h) é ridículo”, reclamou ela.
“Estamos tentando desde que en-
tramos na rodovia e simplesmente
não conseguimos ir tão rápido.”
Depois que expliquei que a Fran-
ça usa o método Católico Romano
de medir velocidade e que os po-
liciais rodoviários locais não têm
mais senso de humor em relação
aos britânicos que resolvem ultra-
passar seus limites de velocidade de
150 km/h, todos decidimos respei-
tá-los durante a jornada de 850 km.