Lucas aprende a ligar os tubos de água do sistema de refrigeração. Já na pista, apoio sempre que Barrichello precisar
Na oficina, o mecânico faz quase tudo, como a montagem da pinça e pastilha do freio ou a pintura do difusor com tinta antichama
dezembro quatro rodas 71
A Full Time pratica trocas de pneus
todos os dias. O pit stop envolve qua-
tro mecânicos. Um faz o reabasteci-
mento. Enquanto ele não terminar, os
outros não podem encostar no carro.
O segundo fica atrás e aciona o maca-
co pneumático que sai do assoalho. O
terceiro usa a pistola para tirar a porca
única e a roda. O último coloca o novo
pneu e quem está com a pistola reapa-
rafusa a porca. Se precisar trocar mais
de um pneu, estes dois têm de correr
em volta do veículo. Um quinto me-
cânico, com o pirulito (cartaz), libera
o piloto na frente para acelerar.
Escolhi a pistola. Como ela fica em
uma mão, você retira a roda (de 23 kg)
com a outra o mais rápido possível.
Após tentativas meio estabanadas,
completei o procedimento. O tempo
médio nos treinos da equipe é de 2 se-
gundos. Na minha melhor passagem,
fizemos em 5. Ao fim do dia, o braço
esquerdo (da retirada da roda) recla-
mou como se eu tivesse passado o dia
numa academia após férias no sofá.
Deixamos o carro praticamente
pronto na oficina. No último dia, é
feito o acerto para a próxima etapa:
alinhamento, cambagem, amortece-
dores, cáster e tudo mais.
A carreta chegou ao Velo Città na
quinta-feira. O pessoal montou os
boxes e deixou tudo pronto. Cheguei
na sexta-feira. Barrichello e os outros
pilotos chegaram e cumprimentaram
cada um. Ele me explica que a relação
com o time “é de amor”. “As histórias
desses caras são incríveis. E acho legal
como eles sobem dentro da equipe,
começando na limpeza e de repente já
estão fazendo algo no carro”, afirma.
Exemplo do que Rubinho diz é o
Jackson, de 18 anos, que está na equi-
pe há poucos meses. Até então moto-
boy em uma pizzaria, entrou para o
time chamado por um dos chefes de
mecânicos. É responsável por traba-
lhos gerais como arrumar, varrer, se-
car, limpar boxes e outros. Mas, quan-
do pode, já entra no meio da confusão
e está aos poucos ajudando e apren-
dendo algumas tarefas relacionadas
aos carros. E o Velo Città é apenas a
segunda etapa que ele faz com o time.
Nos treinos, todos ficamos ligados
no rádio. Barrichello conversa o tem-
po todo com o engenheiro, o próprio
Maurício Ferreira. Pelo canal chegam
as instruções para fazermos alguns
acertos quando o piloto voltar aos bo-
xes. Nessa hora, tento fazer o máximo
sem atrapalhar. Carrego pneus, ajudo
a pegar equipamentos ou ferramentas
e uso o soprador de ar para refrigerar
radiadores quando ele parar nos bo-
xes. Tudo tem de ser rápido e preciso.
O clima é envolvente: mecâni-
cos se concentram como se fossem
pilotar, ficam nervosos, celebram e
lamentam cada momento na pista.
Barrichello tem um final de semana
razoável (um 13º e um 5º lugar), sem
grandes sustos, por isso não há avarias
para consertar. É mais troca de pneus
e acerto. A tensão antes da corrida se
dá muito pelas mudanças no tempo.
Chuva, seco... Os mecânicos ficam na
expectativa do pit stop. Concentração
é a palavra. Quando tudo acaba, cum-
primentos, agradecimentos e despe-
didas ao final do dia dos pilotos.
Nós, mecânicos, continuamos no
circuito. É hora de desmontar toda a
estrutura de boxe. Ferramentas, di-
visórias, sala de pilotos, engenheiros,
chão emborrachado, computadores,
TVs... Tudo, enfim, está guardado nas
duas carretas da equipe cerca de seis
horas após o fim da corrida. Hora de
se despedir. Todos na van, o time par-
te. Na segunda-feira, começa tudo de
novo. Já tem etapa daqui a 15 dias.