Adega - Edição 160 (2019-02)

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16 ADEGA >> Edição^160


E daí tem a interpretação do homem...
GB - A partir daí é a equipe de agronomia e
enologia. Por mais que tenhamos todas as aná-
lises de laboratório, é no dedo e na boca do
enólogo que se define o dia exato da colheita.
Para ajudar, a gente criou um negócio com
nome bonito: o Bueno Wines Intelligence
Center.

O que vocês fazem?
GB - A primeira coisa que a gente fez foi im-
plementar uma estação agrometeorológica
aqui e na Itália, interligadas. Diariamente rea-
lizamos monitoramento e também colhemos
amostras. O negócio é unir o terroir, a infor-
mação, tecnologia e capacidade da equipe.

Neste momento, Cipresso abre o Anima 2015 e
nos conta que somos os primeiros de fora da viní-
cola a degustar este vinho, que seria apresentado
em Nova York alguns dias depois. E Galvão pede
para não beber ainda.

GB - O vinho é um pobre prisioneiro. Pri-
meiro nos tanques. Quando ele pensa que vai
ser solto, vai para a barrica. Quando abrimos
a barrica, ele pensa: “É agora”, e vai para a
garrafa, onde fica anos a esperar o momento
de se libertar. Então precisamos de um pou-
co de paciência. Este aqui está preso há quase
quatro anos. O maior pecado é abrir, servir e
beber. Vamos dar tempo a ele para se recupe-
rar, porque ele é um ser vivo. Vamos deixar
um pouco em taça enquanto falamos...

Roberto Cipresso - A primeira colheita que a
natureza nos acompanhou mesmo foi 2018.
Então, toda a história deste vinho desde quan-
do começamos até 2018 foi bastante difícil.

GB - Tanto que só fizemos o Anima em 2015,
e agora 2018.

De fato, 2015 está muito bom, mas os lotes de 2018 têm
tudo para criar um dos vinhos brasileiros mais especiais
que já provei.
GB - 2018 é uma safra especialíssima. A me-
lhor dos últimos 10 anos.

Evento em Nova York
marcou o lançamento
do vinho Anima

o Michel Rolland, e minha par-
ticipação foi dizer que queria
um bordalês autêntico, da mar-
gem esquerda do rio, com mais
Cabernet Sauvignon. Hoje, o
Roberto fez o vinho atravessar
o rio para o lado direito. (nota:
aqui, Galvão faz referência aos
vinhos das margens esquerda e
direita do estuário da Gironde,
em Bordeaux. Na primeira, a
estrela é a Cabernet Sauvignon;
na segunda, a Merlot).

Acho que ele fez a travessia certa...
A pergunta nunca deve ser o que a
gente quer, mas o que a terra pode dar...
GB - É. Hoje tem mais Merlot que Cabernet
Sauvignon. E eu acabei por concordar. Foi
um período que só fez aumentar minha pai-
xão. É fascinante!

E trabalhar com Cipresso?
GB - Aprendi a ter um respeito muito grande
pela mãe natureza, que me mudou como ser
humano. Não só os vinhedos. Cresceu meu
respeito pela natureza, pela preservação. Um
ciclo de um ano em que cada dia é fundamen-
tal para aquilo que você vai fazer na colheita.
Você está na mão da mãe natureza e daquilo
que ela lhe oferece naquele ano.
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