Adega - Edição 160 (2019-02)

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variações de safra são naturais, deve-se ter um fio
condutor que possa ser reconhecido.

Persistência
Um clássico é um clássico porque perdura. A
obra de Shakespeare, por exemplo, é imortal.
Assim como uma obra de arte, um vinho deve
resistir. Resistir às tentações de mudanças, resistir
aos modismos, resistir à passagem do tempo com
constância de propósito. Só assim um rótulo vai
perdurar. Um clássico é capaz de transpor modis-
mos passageiros e se manter íntegro por anos e
anos a fio, sem ser abalado. Assim que as modas
passam, ele continua lá, sempre revisitado, como
um livro clássico que nunca deixa de ser relança-
do de tempos em tempos, alcançando milhares
de edições. Ou seja, para criar um verdadeiro
clássico, os produtores devem evitar as “distra-
ções” e “desvios” que certamente surgirão.

Essência
A essência de um vinho pode ser seu terroir –
aquele local específico, trabalhado de forma sin-
gular, que gera um produto único. Aí você pode
pensar que somente vinhedos super reconheci-
dos podem gerar um clássico, como um Roma-
née-Conti, por exemplo. No entanto, apesar de
olocal certamente ajudar muito a criar a aura de
vinho clássico, a questão da essência pode estar
na matéria-prima de modo geral, como a varieda-
de selecionada, por exemplo. Há clássicos cujas
uvas provêm de diferentes locais dependendo
da safra. Isso também nos leva a concluir que a
essência pode estar na vinificação, nos métodos
escolhidos pelos produtores para criar um vinho.
Assim, um clássico não necessariamente precisa
ser o “melhor”, mas, como já dissemos antes, o
mais consistente.

Determinação
Além do terroir, da variedade, do sistema de pro-
dução etc., um clássico surge da determinação
de um produtor. Aqui junta-se a constância de
propósito, os meios, mas também deve-se levar
em conta a estética. A estética considerada não
apenas como aparência, mas como filosofia, no
que define o que é belo – dentro do contexto de
uma bebida, obviamente. Se formos para Hegel,

Consistência
A consistência obviamente está ligada ao tempo.
Um clássico precisa, com o tempo, mostrar que
tem um estilo confiável. E aqui é onde se criam
os clássicos independentemente da faixa de pre-
ço. Não importa se um vinho é caro ou barato, é
a sua consistência que vai ajudá-lo a se transfor-
mar em um clássico. Ano após ano, ele deve en-
tregar um determinado nível de qualidade para
que o consumidor adquira confiança ao comprá-
-lo. Ou seja, não importa se o consumidor paga
caro ou barato por um vinho, se o rótulo não se
mostrar consistente, não importa o preço, ele
não vai continuar comprando. Mas e os vinhos
de terroir, que “mudam” de acordo com a safra?
Aqui vale voltar à fala de François Perrin no iní-
cio do artigo, mas, resumindo, mesmo quando as

Não importa se
um vinho é caro
ou barato, é a sua
consistência que
vai ajudá-lo a se
transformar em um
clássico
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