Adega - Edição 160 (2019-02)

(Antfer) #1

66 ADEGA >> Edição^160


terar a composição do açúcar das uvas, sendo
assim, é preciso diminuir a temperatura após a
colheita, passando os grãos por um banho frio,
ou fazendo trocas de calor, ou com jaquetas tér-
micas em tanques de aço inoxidável, e isso tudo
consome muita energia.
Outro ponto de “eficiência” da colheita no-
turna é a possibilidade de intercalar recebimen-
tos de colheitas de variedades diferentes quando
há pouco espaço na vinícola. Ou seja, à noite
pode-se colher as uvas brancas e usar o maqui-
nário para elas, e, durante o dia, o maquinário já
está liberado para receber as tintas, por exemplo.
Nos Estados Unidos, onde a prática é bastante
difundida, parece haver um maior consenso tam-
bém entre os colhedores sobre as vantagens de
trabalhar durante a noite. “As noites frias criam
melhores condições de trabalho – a temperatura
não é apenas mais tolerável, mas abelhas e casca-
véis ficam longe à noite. E os processos são con-
cluídos de forma mais eficiente quando evitamos
o calor do dia”, apontou Lino Bozzano, gerente
de operações da Laetitia Vineyard & Winery.
“No começo, foi um pouco difícil recrutar
equipes noturnas. Trabalhar à noite era uma
ideia nova, e foi preciso convencer os trabalha-
dores a mudar seus hábitos. Nossas uvas Char-
donnay são colhidas estritamente à mão, tornan-
do o trabalho extremamente duro e meticuloso.
Embora o Russian River Valley possa ser bem
frio durante a noite, os dias também podem ser
muito quentes, e a equipe rapidamente percebeu
os benefícios de não trabalhar nos dias quentes
e ensolarados. Os catadores puderam trabalhar
mais rápido e também receberam salários mais
altos por trabalhar à noite”, afirma Rob Davis, da
Jordan Winery.

Só no calor?
Diante de tudo isso, a opção pela colheita notur-
na em locais quentes parece óbvia. Na Austrália,
por exemplo, há até mesmo uma vinícola batiza-
da como o nome de “Night Harvest” (Colheita
noturna), na região de Margaret River. Mas a vin-
dima durante a noite é usada em regiões como
Provence e Borgonha, na França, especialmente
para seus rosés e brancos, respectivamente. Hoje
é comum os produtores que apontam o fato de

elétrica. Com uvas chegando com temperatu-
ras mais amenas na vinícola, ou não é preciso
resfriá-las durante os processos seguintes, ou, se
necessário, o resfriamento é menor. “Preferimos
uvas que foram colhidas à noite quando chegam
à vinícola. Quando colhidas com temperatura
de cerca de 10ºC, as uvas são mais firmes, faci-
litando o trabalho, particularmente o desengace.
Além disso, temperaturas mais baixas permitem
que as uvas Pinot Noir cheguem perto da mesma
temperatura necessária para iniciar a imersão a
frio, o primeiro passo na produção desses vinhos.
Se trouxéssemos uvas colhidas durante o calor do
dia, muito mais energia precisaria ser gasta para
levá-las à temperatura ideal para serem resfria-
das”, diz Eric Hickey, enólogo da Laetitia Vine-
yard & Winery, nos Estados Unidos.
As temperaturas a partir de 30ºC podem al-

A colheita noturna
tende a diminuir os
custos de energia,
assim como ajuda
na logística dos
recebimentos da
safra, mas custos
trabalhistas podem
ser elevados

John McPherson

Free download pdf