Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Pode.
— Estou desejosa de ir para a cama contigo — murmurou para o telefone com voz de gozo —
e de te comer todo, huuuum, já estou a ficar toda molhada.
Zé ouviu umas gargalhadas abafadas ao fundo. Os amigos.
— Vê se te portas bem — disse.
— Sim, querido, não te vou enganar, fica descansado.
— Beijos.
— Beijos.
Era engraçado como os compromissos condicionavam uma relação e a forma como as pessoas
se davam, pensou Zé com um sorriso nos lábios depois de desligar. Se Graça alguma vez lhe
tivesse falado daquele modo — o que era impensável, mas se... — e se ele ouvisse as
gargalhadas abafadas de outras pessoas que estivessem com ela, sentir-se-ia humilhado e muito,
muito, zangado com ela. Mas como isso acontecera com Sara, Zé achara um piadão. Sara não
tinha nenhum compromisso com ele, pelo menos um compromisso sério, do género és-a-única-
pessoa-da-minha-vida-e-vamos-casar, e portanto as regras da exclusividade que implicavam um
certo tipo de comportamento contido não se lhe aplicavam. Claro, se Zé soubesse que ela
andava envolvida com outro ou se a surpreendesse aos beijos com alguém, nunca mais a
quereria ver, mas tirando isso ela era livre de fazer o que lhe desse na gana sem que ele
quisesse, ou pudesse, exigir-lhe explicações.
Pediu mais um uísque à empregada.
— Como é que você se chama? — perguntou-lhe, quando ela voltou com o copo.
— Maria do Rosário.
— Maria do Rosário, posso convidá-la para irmos beber um copo quando você acabar de
trabalhar?
— Obrigada, mas eu saio muito tarde e moro longe.
— Onde é que mora?
— Na outra banda, em Almada.
— Não faz mal, eu levo-a lá.
— Pois, mas eu hoje estou muito cansada e amanhã tenho de me levantar cedo.
— Então, e amanhã?
— Amanhã tenho de vir trabalhar.
— Quando é que é a sua folga?
— Ao domingo.
— Óptimo, está convidada para jantar comigo no domingo. Ela riu-se.
— Está bem — disse.
Saiu para a noite fria satisfeito consigo próprio. Rosarinho, não podia esquecer-se do nome
dela. O que é que estava a pensar? É claro que não ia esquecer-se, se tinha o seu nome e o
número de telefone escritos num cartão, como é que poderia esquecer-se?
Lembrou-se de ligar a Tó para lhe perguntar se queria ir para a borga. Ele respondeu-lhe que
não estava para aí virado, que tinha muito que fazer no dia seguinte e não queria lixar o dia de
trabalho por causa dos copos.

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