Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

TRINTA E QUATRO


Sara não apareceu na segunda-feira, como havia prometido, nem na terça, nem na quarta. Mas
de que estava ele à espera? Uma coisa era certa, Zé não começaria a telefonar-lhe a toda a hora
para lhe implorar umas migalhinhas da sua atenção. Recusava-se a andar atrás de Sara. Se ela
julgava que ele se ia tornar um amante despeitado, roído de ciúmes e incapaz de dominar o
impulso de a perseguir com lamúrias e flores, bem podia esperar sentada. Para ser rejeitado, já
lhe bastava Graça, e Cátia, já agora.
Na quinta-feira desistiu de pensar em Sara e foi para os copos com Tó. Jantaram no BBC, o
último grito da noite lisboeta.
— Falei com a Graça, um destes dias — disse Tó, ao café.
— Falaste?
— Falei. Ela telefonou-me.
— Porquê?
— Olha, porque queria saber como é que eu estava depois da separação e isso tudo.
— Sabes que ela ficou bastante chocada com a vossa separação?
— Ela disse-me, e queria saber se não havia nenhuma hipótese de eu voltar para a Lili.
— E não há?
— Não, nós estamos muito bem assim. Eu expliquei à Graça que uma separação não tem de
ser necessariamente um processo dramático.
— Disseste-lhe isso? Ah, Tó, obrigadinho pela ajuda. Agora vai ser muito mais fácil ela
esquecer-se de mim.
— Não é nada disso, Zé. Escuta, eu estava a falar do meu casamento. O que eu lhe disse foi
que, no nosso caso, tratou-se de uma separação amigável. Eu e a Lili não podemos ser mais
amigos do que somos, percebes?
— Mesmo assim, não sei se foi um bom exemplo.
— É claro que foi. Não é isso que queres? Que a Graça se dê bem contigo?
— Não é bem isso. O que eu quero é que ela volte para mim.
— Bom, se ela se der bem contigo, já é um começo.
— Acho que sim — vacilou, sem convicção —, acho que sim...
Por volta da uma da manhã, Zé e Tó já se encontravam suficientemente bebidos para
concluírem que o BBC não era local para eles. Decidiram que precisavam de algo mais
escaldante e mais divertido como...
— O Elefante, vamos ao Elefante — sugeriu Zé.
— Vamos embora — anuiu Tó sem pensar duas vezes.
— O Elefante é que tem gajas boas.
— E caras.

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