Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— A qualidade paga-se, meu amigo.
O Elefante Branco: Zé dá as boas-noites ao porteiro, fura por entre as pessoas através do
corredor que separa o balcão, à direita das mesas à esquerda, e chega à zona da pista, mais
ampla, rodeada de mesas, quase todas ocupadas. Vira-se para trás à procura de Tó e localiza-o
a conversar com uma baixinha de mini-saia no início do corredor. Por pouco, Tó não passava da
porta. Zé volta a concentrar-se na pista, estuda o ambiente. Há mulheres a dançar com homens e
mulheres a embalar-se sozinhas, suavemente, sensualmente, à espera de que um cliente se sinta
tentado a chamá-las. Vem um empregado solícito e pergunta-lhe se deseja uma mesa. Zé decide
aceitar e segue o homem até um lugarzinho aveludado ao lado de um grupo de engravatados
barulhentos que estão a esvaziar garrafas de uísque com uma rapidez estonteante, acompanhados
de várias mulheres bastante diferentes umas das outras.
O empregado volta com uma garrafa de Jameson , um balde de gelo, dois copos e dois
pratinhos de aperitivos. Coloca tudo em cima da mesa, serve os dois copos e pergunta se «o
senhor vai desejar mais alguma coisa?». Zé responde-lhe que não precisa de mais nada.
Olha em redor, os seus olhos procuram uma mulher que os entusiasme. Está a pensar em
chamar uma delas para conversar. Bom, não é realmente para conversar, porque aquelas
mulheres nunca têm nada de jeito para dizer e, ao fim de um bocadinho, já estão a querer
negociar a noite com ele. É só pela piada da companhia. Mesmo não tencionando ir com
nenhuma, pode chamá-las, porque elas não sabem que não vão levar nada dele. E, se lhe
apetecer, até pode ir chamando uma de cada vez, fazendo-as rodar pela sua mesa durante a noite
inteira. Pelo menos, as que não estiverem já acompanhadas. A ideia diverte-o.
— Como é, gatão — diz-lhe ao ouvido uma voz sexy com sotaque brasileiro —, tudo bem
com você?
Zé olha por cima do ombro para ver quem está a falar consigo.
— Regina?! — Abre os olhos de espanto.
— Posso sentar?
— Claro, claro — diz, aparvalhado, sem querer acreditar no que está a acontecer. — Regina!
— Sou eu mesma.
Zé faz um esgar estranho e abana a cabeça, como quem está a pôr as ideias em ordem.
— Eu julguei — diz — que me tinhas dito que trabalhavas numa loja de lingerie.
— Trabalho, sim.
— Regiiina!!! — grita, na brincadeira —, eu não sabia que você era uma garota de programa.
— É, eu não sou garota de programa mesmo, mas, você sabe como é, eu ganho pouco na loja e
então venho aqui algumas vezes para conseguir chegar ao fim do mês com dinheiro.
Depois Regina desfia a conversa do costume de que tem uma família muito pobre e precisa de
enviar regularmente dinheiro para São Paulo, e blá, blá, blá.
— Então, Zé — pergunta-lhe finalmente —, você está a fim de sair hoje?
— Não, Regina, gostava muito, mas eu não vou para a cama com ninguém por dinheiro.
— Tudo bem, eu entendo. Foi bom ver você outra vez.
— Igualmente.
— A gente se vê, tá?

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