Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

TRINTA E CINCO


O pior que pode acontecer a um homem é ver as suas namoradas — mais ou menos oficiais,
não interessa — começarem a cruzar-se umas com as outras sem que umas saibam das outras.
Normalmente, acaba tudo numa confusão com contornos de pesadelo, e o pesadelo maior é o
dele.
Afinal, Sara sempre deu sinal de vida. Telefonou-lhe, sem ele estar à espera, a meio de uma
tarde de trabalho no banco.
— Olha quem ela é — exclamou Zé, traindo-se com um tom de censura que gostaria de ter
evitado. — Ainda és viva? — Teria preferido ter empregado um registo totalmente cool , que
sugerisse uma atitude do género estou-me-nas-tintas-para-ti-e-nem-reparei-que-não-me-ligaste-
este-tempo-todo, mas não conseguiu. Teve uma reacção bastante azeda, foi mais forte que ele.
— Pois, sabes como é — disse ela, simplesmente —, tenho tido muito trabalho. — E como,
de qualquer maneira, Sara não era pessoa para dar grande importância a censuras, passou logo
ao ataque. Disse que estava a morrer de saudades de Zé e que sentia mesmo necessidade de
fazer amor com ele naquele momento.
— Sara, eu já estou atrasado para uma reunião.
Não estava nada, mas Zé já ultrapassara a fase de alinhar nas extravagâncias de Sara sempre
que ela premia o botão, e quis deixar bem claro que, de futuro, não seria um boneco que ela
pudesse manipular conforme os seus apetites.
— Anda lá — insistiu ela. — Daqui a uma ou duas horas já estás aí a trabalhar outra vez.
— Não.
— Não?
— Não, Sara, não posso. Se quiseres, encontramo-nos mais logo num sítio qualquer.
Encontraram-se ao princípio da noite nas Amoreiras. Sara esperava-o no átrio da entrada
principal e recebeu-o entusiasticamente com um abraço muito apertado, como se aquilo fosse o
aeroporto e ele chegasse de uma longa viagem ao estrangeiro. Parecia que lhe fazia bem levar
uma tampa de vez em quando. Sara estava um doce. Tomaram um café na zona dos restaurantes,
no primeiro andar, e depois deambularam pelos corredores do centro comercial a ver as
montras, despreocupadamente, em ritmo de passeio, de braço dado como dois namorados.
Zé ia a pensar que era capaz de se habituar à companhia de Sara, se ela estivesse presente, o
que não era costume acontecer. Ia a pensar que gostava dela mais do que alguma vez admitira,
quando Sara decidiu arrastá-lo para dentro de uma loja.
— Anda ver esta loja — disse, puxando-o pelo braço antes que Zé percebesse onde estava a
entrar.
— O que é que vais comprar?
— Uma lingerie preta para tu me despires.

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