— E pranchas de surf em segunda mão.
— Sim, isso, como é que vai?
— Não vai.
— Não?
— Não, não tenho cheta.
— Olha, se eu arranjar massa, digo-te.
— Fixe — disse Miguelinho, dando uma passa profunda no charro e prendendo o fumo nos
pulmões o máximo que conseguiu.
— Mas não vai ser fácil. Agora tenho esta casa para pagar, mais o dinheiro para a Graça. Não
sobra muito, sabes?
— Tudo bem.
Zé continuava a não querer entrar no negócio. Não acreditava em garrafas de areia coloridas,
não sabia nada do assunto e nem sequer tinha tempo para se dedicar a lojas de artesanato. Sabia
que estava a criar expectativas no amigo tendo a certeza de que no dia seguinte nem pensaria
duas vezes antes de dizer que não. Mas já tinha bebido demais e fumado charros demais e
sentiu-se comovido com a visita de Miguelinho e... quis ser simpático.
— Então e a cena do casamento — perguntou Miguelinho — foi ao ar?
— Foi — confirmou Zé.
— Por causa da miúda que eu te apresentei?
— Não. Por causa de outra.
— Uma gaja lá do banco?
— Hum, hum.
— É fodido.
— Pois é.
De manhã, Zé acordou às dez com uma ressaca tremenda e não encontrou Miguelinho, que já
saíra para o emprego. Afinal , pensou, quem é que é o irresponsável?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1