parecia nada diferente. Vestia-se sempre com elegância para sair à noite. Quando muito, estava
vestida demais para ir a casa dele.
— Vamos entrar?
— Não, espera. O que é que queres dizer com isso de que eu estou diferente?
— É que não costumas ser ciumenta e hoje até pareces preocupada só porque eu fui jantar
com a minha secretária.
— Quem é que te disse que eu não sou ciumenta?
— Ninguém, eu sei que tu não és ciumenta.
— Gostavas que eu fosse ciumenta?
— Gostava que fosses mais atenciosa. E menos indiferente.
— Indiferente, eu?! — indignou-se.
— É o que eu digo — abriu os braços no ar —, estás diferente.
— Zé, eu gosto muito de ti e não estou nada diferente. Só que... — fez uma expressão de
preocupação — estive a pensar numa coisa.
— Ah, estiveste a pensar numa coisa — repetiu ele, dando a entender que considerava essa
frase uma confirmação da sua suspeita. — Vamos entrar? — Apontou para a porta do prédio.
— Não queres saber no que é que eu estive a pensar?
— Quero, mas lá dentro.
— Está bem.
Zé abriu a porta da rua e desviou-se, segurando-a para que não se fechasse. Sara atirou fora o
cigarro e entrou à frente dele. Despiram os casacos e foram para a sala. Zé abraçou-a por trás,
pela cintura, puxou-a para si e começou a beijá-la com ternura no pescoço. Sara inclinou a
cabeça para trás, abandonando-se nos braços dele por um momento e depois rodou o corpo,
passando os seus braços em volta do pescoço dele. As suas línguas tocaram-se e a mão de Zé
procurou o botão das calças dela. Mas Sara interrompeu-o, afastando-o gentilmente.
— Espera — pediu-lhe.
— O que foi?
— Nada — disse. — Só que eu tenho uma coisa para te dizer.
— E é assim tão urgente?
— É. Não, não é, mas eu quero dizê-la na mesma.
— Mau — disse Zé, desconfiado de que não vinha lá nada de bom.
— Vá lá, Zé, vamos conversar um bocadinho.
— Pronto, está bem — rendeu-se. — Deixa-me só acender a lareira.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1