Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

QUARENTA


Cátia telefonou para o gabinete de Zé com uma voz chorosa e pediu-lhe para falar com ele
ainda naquele dia, se possível.
Tó deixou-lhe uma mensagem no telemóvel a perguntar se podiam tomar um copo mais logo.
Precisavam de conversar, disse, só não explicou sobre o quê.
Lisete informou-o, assim que entrou, que um dos administradores queria que ele fosse ao seu
gabinete urgentemente.
Zé respirou fundo. Caramba, de repente toda a gente queria falar com ele.
— Vamos por partes — disse. — Primeiro o administrador.
— Sim, doutor — disse Lisete. — Vou já ligar a saber se ele o pode receber agora.
Zé foi recebido de seguida e ficou a saber que a administração não estava nada satisfeita com
o seu trabalho. Ou melhor, a administração estava preocupada. Afinal, que diabo, Zé só passava
oito a nove horas por dia no banco, o que era manifestamente pouco para um director. Um
director a sério dormia no banco se fosse necessário, não tinha o seu trabalho atrasado, nem que
precisasse de vinte e cinco horas por dia para não falhar os prazos. O que é que interessava se o
dia só tinha vinte e quatro horas? Claro está que isto não lhe foi dito assim, directamente,
porque a administração só pretendia que Zé não falhasse, e o resto era conversa. Portanto, o que
lhe foi comunicado, objectivamente, foi que, ou Zé cumpria a sua parte ou arranjavam alguém
que a cumprisse por ele. Por outras palavras, estava a um passo da porta da rua.
Nesse dia Zé trabalhou quase até às onze da noite. Não havia nada como um bom incentivo
para uma pessoa dar o litro, pensou, enquanto fazia serão, calculando quantas horas precisaria
de dormir, no mínimo, para estar de regresso ao gabinete às oito, suficientemente fresco para
não adormecer à secretária.
No dia seguinte, chegou pela primeira vez ao banco antes de Lisete. Foi um acontecimento tão
inesperado que a deixou desconcertada. Lisete pediu-lhe desculpa, um pouco aflita, por não ter
entrado mais cedo.
— Se eu soubesse... — disse, desconsolada.
— Não se preocupe, Lisete — sossegou-a Zé. — Arranje-me só um café duplo o mais
depressa possível, se faz favor.
Ficou a trabalhar novamente até às onze da noite, aguentando-se de pé à base de cafés e
cigarros.
Na sexta-feira de manhã Zé chegou de madrugada, às seis e meia. Sexta-feira era o grande dia.
Tinha jantar marcado com Graça e não tencionava faltar a esse compromisso, nem que o banco
abrisse falência, de modo que entrou ainda mais cedo, já a pensar que não poderia sair às onze
da noite.
Por volta das nove recebeu a primeira chamada de Cátia. Precisava muito de falar com ele.

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