Despachou-a com a promessa vaga de que lhe telefonaria mais tarde. Mas como não o fez, ela
voltou a ligar às onze. Zé mandou dizer por Lisete que não a podia atender. À uma da tarde
Lisete saiu para almoçar e Cátia aproveitou ter a costa livre para lhe entrar pelo gabinete dentro
desfeita em lágrimas.
— O que é que se passa, Cátia? — indagou Zé, levantando-se para ir ao seu encontro.
— Acabei tudo com o meu namorado — disse ela, com uma voz lacrimosa.
— Ah, foi? — disse Zé, a revirar os olhos e a pensar o que é que eu tenho que ver com isso?
— Foi.
— Senta-te aqui — indicou-lhe uma cadeira, afagando-lhe as costas para a acalmar.
— Ele é um filho da puta.
— Cátia, eu percebo que estejas triste e, olha, não quero que penses que sou insensível, mas é
que estou no meio de uma crise e se não...
— Ele é o teu chefe, Zé.
— O meu chefe?
— Hum, hum.
— Ah, bom. — Zé foi sentar-se na sua cadeira. Aquilo não ia ser fácil.
— E está furioso comigo. Já ameaçou que ia arranjar maneira de me despedir e tudo.
Eu sei o que isso é , apeteceu-lhe dizer.
— Não te preocupes — disse. — Ele não pode despedir-te.
— Não, mas pode fazer-me a vida negra.
— Lá isso pode — concordou Zé, sem pensar.
Cátia lançou-lhe um olhar de censura.
— Quer dizer — acrescentou Zé, muito depressa —, ele vai chatear-te um bocado, mas tu não
podes deixar que ele te intimide.
— Zé — implorou —, tu não podes fazer nada?
— Eu?! O que é que eu posso fazer?
— Não sei — encolheu os ombros e deu um fungadela de tristeza —, podias falar com ele.
— Cátia, vou contar-te um segredo. — Zé pôs um cotovelo em cima da mesa e apoiou a testa
na mão como um guerreiro cansado. — A minha situação no banco, nesta altura, não é famosa. A
última coisa que eu posso fazer é entrar em guerra com o meu chefe por causa de um assunto de
saias.
— Eu não sou um assunto de saias! — explodiu Cátia, numa choradeira alarmante. Zé deu um
pulo na cadeira e foi rapidinho fechar a porta do gabinete com medo de que alguém a ouvisse
chorar. Era só o que me faltava , pensou, sem saber muito bem o que fazer.
— Foi só uma maneira de falar, Cátia. Não fiques assim. Olha, deixa-me pensar no assunto,
havemos de arranjar uma solução — prometeu-lhe, mas ainda demorou mais meia hora para a
acalmar e conseguir livrar-se dela.
Acompanhou Cátia até ao corredor. Lisete, que já regressara ao seu posto, fingiu-se ocupada
com uns papéis na secretária quando o viu sair com a mão por cima dos ombros de uma Cátia
com os olhos vermelhos e a consolá-la com palavras ternas.
— Não me pergunte nada — disse Zé entredentes, numa advertência mal-humorada, ao passar
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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