Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

QUARENTA E UM


Escolheram um restaurante de bairro, pequeno e acolhedor, perto da casa de Graça. Zé
sugeriu aquele sítio por o achar apropriado para um jantarzinho de reconciliação. Antigamente
— parecia-lhe ter sido há tanto tempo — costumavam ir lá quase todos os fins-de-semana. Era
tão perto que iam a pé.
Reparou que Graça estava muito mais magra — elegante, era a palavra certa — e fora ao
cabeleireiro. Trazia umas calças de ganga novas, justinhas, e uma camisola de lã branca,
confortável. Parecia ter uma alegria resplandecente nos seus olhos castanho-claros, brilhantes.
Uma alegria nova.
— Estás bonita — elogiou-a, a pensar que ela lhe parecia a Graça de dez anos atrás. De facto,
esquecera-se como Graça era bonita há dez anos.
— Obrigada — disse ela, fazendo uma vénia graciosa com a cabeça.
Sentaram-se à mesa. O restaurante estava cheio, como sempre. Tinha um balcão sobre o qual
havia cebolas secas penduradas. Contornava-se o balcão e chegava-se a uma sala, não muito
grande, com traves de madeira pintadas de preto a fazerem de divisória e mesas cobertas com
toalhas aos quadradinhos brancos e vermelhos. Havia caldo verde, carne de porco à alentejana,
cozido, açorda e outros pratos típicos portugueses.
— Não, a sério — disse Zé. — Pareces mais nova.
— Fiz uma dieta.
— Já reparei.
— Mas hoje não faço.
— Acho bem que não. Pedimos o costume?
— Claro.
O costume era o caldo verde e a carne de porco à alentejana.
Falaram de Quico e das boas recordações que o restaurante lhes trazia. Quico vinha sempre
com eles e, quando era mais pequeno, andava por ali como se estivesse em casa. Ia para trás do
balcão e metia-se na cozinha. Os empregados conheciam-no bem e gostavam dele. Deixavam-no
andar por onde quisesse.
Beberam uma garrafa de vinho tinto e Zé não cabia em si de contente por ver que Graça
parecia feliz. Os últimos contactos com ela haviam sido frios. Até ali, ela mostrara-se distante e
não aceitara falar de mais nada do que de Quico e dos problemas pendentes. Hoje, pelo
contrário, estava afável e muito bem-disposta.
— Já não estás zangada comigo? — arriscou-se Zé a perguntar-lhe.
— Tenho pensado muito em nós, sabes? — disse Graça, com os olhos postos no copo de
vinho que fazia rodar na mão.
— Sim?

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