apartamento. Voltou a respirar fundo e preparou-se para o segundo round.
— Isso — disse — é uma coisa que temos de pensar muito bem.
— Eu sei — assentiu ela.
— Sara, não é segredo nenhum para ti que eu me separei há pouco tempo e que ainda nem sei
como é que vai ser a minha vida.
— Estás a pensar voltar para casa?
— Mesmo que estivesse, não sei se a minha mulher quereria. O que eu não quero é que tu
venhas cá para casa de armas e bagagens e que, no dia seguinte, tenhas uma desilusão.
— Mas tu ainda gostas dela?
— Sara, não se vira a cara a dez anos de casamento, como se nada fosse — disse, satisfeito
com a resposta: ambígua e plausível, muito bem, Zé. — Olha, deixa-me pensar nisso até sexta-
feira e depois voltamos a falar. Preciso de pôr as ideias em ordem.
Sexta-feira era bom, na sexta-feira Zé ficaria a saber se Graça o queria de volta, definiria a
sua vida de uma vez por todas e poderia dar uma resposta definitiva a Sara. Não se perdia nada.
Mas agora era sábado e ali estava ele, sentado no sofá da sala, num estado deplorável e ainda
mais perdido do que no princípio da semana. Já sabia o que Graça pensava da ideia de ele
voltar para casa, e nem sequer valeria a pena perguntar a Sara se sempre queria viver com ele,
pois acabara de se lembrar que lixara tudo com ela.
— Sozinho outra vez, Zé — disse em voz alta. — Estiveste bem ontem à noite, sim senhor,
muito bem — ergueu uma garrafa de água com gás —, parabéns!
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1