rapariga passar por eles, no passeio.
— Não é a rapariga do outro dia? — indagou Zé, ao lembrar-se de que também a vira passar
na última vez que ali tinha estado com Tó.
— Parece — disse Tó, olhando para ela com a cabeça de lado, como se estivesse a observar
o pormenor de um quadro. — É, é — acrescentou, quando a viu melhor.
— Que gaja tão boa — disse Zé, repetindo, por brincadeira o comentário da outra vez.
— Um avião — observou Tó, fazendo o mesmo.
— De um a dez, quanto é que lhe davas?
— Sete e meio, oito?
— Mais para o oito.
— Sim, mais para o oito.
O telemóvel de Zé estremeceu-lhe no bolso do sobretudo. Ele tirou-o para fora, verificou que
era uma chamada do escritório e desligou-o sem atender.
— Puta que os pariu — resmungou, atirando com o aparelho para cima da mesa. Em seguida
alargou o nó da gravata e desapertou o botão de cima da camisa.
— Estás irritado — observou Tó.
— Estou farto destes gajos. Cambada de incompetentes, sempre a atirarem para cima de mim
os problemas todos.
Tó não disse nada, mas suspirou, solidariamente.
— Porra, Tó — disse depois —, desculpa lá não te ter ligado mais cedo, mas é que fui jantar
com a Graça e a coisa não correu bem e eu fiquei desatinado e não quis saber de mais nada.
Enfiei-me no banco a trabalhar e nunca mais parei.
— Eu sei — disse Tó, rodando num cotovelo para ficar de frente para Zé.
— Sabes? — espantou-se Zé.
— Sei, a Graça contou-me.
— Falaste com a Graça?
— Falei. Aliás — acrescentou —, era por isso que queria falar contigo.
— Por causa do meu jantar com ela?
— Não, por causa dela.
— O que é que ela tem?
— Zé, eu tenho estado muito com a Graça.
— Tens? — disse Zé, confuso. Não estava a perceber nada da conversa dele... a menos que...
Clique. Graça recusara-se a dizer-lhe quem era a tal pessoa com quem ela andava. Relembrou a
conversa: «Com o tempo, saberás», dissera ela. «Diz lá, Graça. Não achas que eu tenho o
direito de saber?», insistira Zé. «Sim, mas não é o momento indicado», respondera-lhe ela.
E agora, Tó... Não , pensou, não pode ser.
— Tenho — confirmou Tó.
Zé abanou a cabeça, como se fazia com uma máquina que não trabalhava bem.
— E foi por isso — continuou Tó — que eu pensei que tu estavas chateado e não querias falar
comigo.
— Tó, o que é que tu estás a querer dizer-me, exactamente?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1