Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Isso mesmo que tu estás a pensar.
— Nããão...
— Sim.
— Tu e a Graça?
Tó fez que sim com a cabeça e Zé distraiu-se inexplicavelmente com o facto de ele ter a barba
bem crescida. Como é que eu não reparei nisso antes? , preocupou-se, mas era na barba de Tó
que estava a pensar. Não sabia porquê, mas achou a sua desatenção preocupante. Afinal, a
barba, farta e espessa, não era propriamente invisível. Tó estava, até, com um visual bastante
diferente. De repente, quase não o reconhecia. Seria por causa do que ele acabara de dizer que
Zé teve a impressão de estar a falar com um estranho? Seria um mecanismo de defesa
psicológico? O que quer que fosse, levou-o a desejar que aquele tipo, sentado ao seu lado, não
fosse o seu melhor amigo.
— Como é que isso aconteceu? — perguntou, depois de quase meio minuto de silêncio.
— Não sei, Zé. Aconteceu — disse Tó, embaraçado. — Como deves calcular, não foi nada
premeditado. A Graça quis falar comigo para ouvir a minha versão sobre o meu divórcio e...
— Já te divorciaste da Lili?
— Já.
— Mas, tinhas-me dito que não era nada definitivo.
— Mas é.
— Ah, bom...
— Como eu estava a dizer, a Graça quis falar-me do vosso divórcio.
— Separação — corrigiu Zé, mal-humorado.
— Sim, separação.
— Porque é que ela te quis falar disso?
— Para desabafar, acho eu. Depois disso, encontrámo-nos mais algumas vezes, começámos a
dar-nos bem e...
— Tu sabias que eu queria reconquistá-la e voltar para casa. Eu disse-te isso, tivemos
conversas sobre isso e, entretanto, tu andavas a... a engatar a minha mulher?
Zé não cabia em si de indignação. Estava chocado e capaz de matar o amigo, mas, ao mesmo
tempo, sentiu-se demasiado cansado, sem ânimo. Foi como se tivesse chegado ao fim de uma
longa viagem. Limitou-se a interrogar Tó, confrontando-o com a sua, como dizer?, traição , que
outra palavra havia para definir o que ele lhe fizera?
— Não foi nada disso, Zé — defendeu-se Tó.
— Ai, não? Então, se não foi, explica-me lá melhor para ver se eu percebo o que foi. Tu foste
nosso padrinho de casamento, porra!
— O vosso casamento estava acabado. A Graça disse-mo várias vezes e disse-te o mesmo a ti
várias vezes. Tu é que não quiseste ouvir. Andavas a enganar-te, Zé.
— Ah, bom — ironizou —, é que eu pensei que eras tu que me andavas a enganar.
— Zé, deixa-me esclarecer-te uma coisa: eu não tinha a intenção de me apaixonar pela Graça,
e ela também não. Não preciso de te dizer que estas coisas não acontecem assim.
Ele está a dizer que se apaixonou pela minha mulher , interiorizou, achando aquilo

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