podia ter. Os homens eram conquistadores por natureza, não aceitavam facilmente fracassos
neste capítulo, e a intromissão de Tó viera agravar o sentimento de perda que perturbava Zé. Ao
olhar para trás, sem a angústia que antes lhe condicionava os sentimentos e as decisões, Zé
percebia que tivera medo de perder a estabilidade que lhe proporcionava a sua antiga vida, por
muito desinteressante que, então, esta lhe parecesse. Ver-se perante a solidão de um apartamento
à beira do caos, incapaz de governar convenientemente o seu dia-a-dia, levara-o a desejar o
regresso a casa, à sua verdadeira casa. Mas, como as mulheres eram mais sábias do que os
homens e conheciam segredos da vida de que eles nem suspeitavam, Graça percebera desde
logo o que Zé só agora começava a entender: que não valia a pena voltar atrás, pois ele já não a
amava, apenas queria recuperar algo que não tinha nada que ver com o amor.
Zé deixou a esplanada e inspirou profundamente o ar da noite. Caminhou para o parque de
estacionamento em ritmo de passeio, com um sorriso nos lábios, aliviado por se ver, de uma vez
por todas, livre dos sentimentos que andavam a torturá-lo há demasiado tempo. Sentiu-se leve e
feliz como um rapazinho sem preocupações. Não amava Graça, não amava Graça e tinha
vontade de começar a gritar aos quatro ventos aquela revelação providencial.
Mas havia uma coisa que Zé ainda tinha de fazer, algo que ficara por resolver e que lhe estava
entalado na garganta.
Não passa de hoje , decidiu ao entrar no carro.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1