Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Além de serem a grande moda deste Verão, as nossas garrafinhas são um rigoroso
exclusivo. Não há volta a dar a esta cena.
— É um negócio fixe — diz Zé.
— É bacano, não é?
— Altamente.
— Um gajo fica aqui a ver o pôr do Sol e as garrafitas vão saindo nas mãos de meninas
apaixonadas. É só recolher o chilim.
— Recolher o quê?
— O mónei, o euro, a massa.
— Ah, sim. Ainda não percebi para que é que servem aquelas garrafas.
— Não servem para nada, acho eu.
— Para decoração? — sugere Zé.
— Hum, aquela merda?
— Aposto que as deixam cá todas no fim do Verão.
Zé e Miguelinho inclinam-se para trás, encostando as cadeiras à parede, e acendem um
cigarro. Parecem dois gémeos sincronizados.
— A Sara sempre vem? — pergunta Miguelinho, distraído a soprar círculos de fumo que se
desfazem no ar.
— Vem daqui a pouco.
— E dorme cá?
— Nããã. Estás a ver a Sara a dormir no nosso apartamento?
— O que é que tem?
— É uma pocilga.
— Ah... achas?
— Acho. E ela também acha.
— Estás apanhadinho.
— Pois estou — confessa Zé.
— E no Inverno, ela vai viver contigo?
— No Inverno, vai.
— E a Graça?
— A Graça — encolhe os ombros — está com o Tó.
— Pois é... — diz Miguelinho, pensativo. — Que cena marada.
— Podes crer.
— Já estás na maior com ela?
— Digamos que já estive pior. Conversei com ela, disse-lhe que ia desistir do processo em
tribunal, aumentei-lhe a pensão. Acho que, com o tempo, vamos ficar bem.
— E com o Tó, também estás na boa?
— Eh, também não exageres. Eu quero ser um gajo porreiro, mas não sou nenhum santo.
Remetem-se os dois ao silêncio. Agora o Sol já desapareceu atrás do parapeito da muralha,
do outro lado da rua. Depois Miguelinho lembra-se de uma coisa.
— Zé?

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