Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

PRÓLOGO


Deram um com o outro, por acaso, à saída da estação do Metro do Rossio. Ele a sair, ela a
entrar. E esse encontro improvável mexeu de novo com os sentimentos que o tempo havia
aplacado.
— Mariana?
— Zé Pedro?
Ele fez que sim com a cabeça e ela correspondeu-lhe com um sorriso tímido.
— Há tanto tempo que eu não te via... — comentou Zé Pedro, abismado com a surpresa, como
se fosse um sonho temperado pela nostalgia de uma recordação marcante.
— É verdade — confirmou ela, algo atrapalhada com os três sacos de compras que lhe
ocupavam as mãos.
Eram dez e meia da manhã. Uma onda compacta de gente apressada que subia as escadas
quase os arrastou pelos degraus acima. Encostaram-se à parede para não serem levados pela
multidão.
— Aí há uns quinze, dezasseis anos? — indagou Zé Pedro.
— Pelo menos.
Ele abanou a cabeça. Não estava nada à espera. Depois inclinou-se para a beijar no rosto.
— E o que é que andas a fazer? Conta-me tudo — disparou, já refeito da surpresa. — Estás
com pressa ou tens tempo para tomarmos um café?
— Estou com um bocadinho de pressa — desculpou-se Mariana. Fez menção de consultar o
relógio, mas viu-se impedida pelos sacos e pela manga comprida do sobretudo de caxemira
branco.
— Oh, que pena. Mas, olha, gostava de te ver, um dia destes. — Zé Pedro levou a mão ao
bolso interior do casaco. — Toma o meu cartão. Telefona-me quando quiseres para tomarmos
um café ou almoçarmos.
Enfiou-lhe o cartão no bolso do sobretudo.
— Combinado — assentiu Mariana. — Eu ligo-te.
Despediram-se. Zé Pedro subiu o resto das escadas, parou no topo e voltou-se. Mariana
desceu e fez o mesmo. Ele acenou-lhe e ela retribuiu-lhe o gesto com um sorriso envergonhado.
Depois desapareceu no interior do corredor do Metro.


Empurrou a porta da livraria às onze em ponto. A loja ficava na Rua Augusta. Não era muito
grande nem tinha muitos clientes, mas era sua e Zé Pedro sentia uma certa paz de espírito pelo
facto de não depender de ninguém para se sustentar. Estava com quarenta anos e achava que já
tivera a sua quota-parte de empregos por conta de outrem.
— Bom dia, Rosa.
— Bom dia, Zé Pedro.

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