Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

QUATRO


A aula de ténis não correu bem. Zé fez uma luxação no braço e teve de recorrer a uma clínica
de fisioterapia. Mas isso acabou por ser vantajoso, na medida em que lhe deu a oportunidade de
convidar Cátia para sair. Assim que se sentiu curado, inventou mais umas sessões de
fisioterapia e ganhou algum tempo livre.
— Queres ir ao cinema? — perguntou-lhe durante um dos seus já habituais almoços na
pastelaria. Tinham começado a tratar-se por tu, por sugestão dela, o que o deixou maravilhado e
lhe deu coragem para dar o passo seguinte para o doce abismo de que se ia aproximando cada
vez mais.
— Hoje?
— Porque não?
— A seguir ao trabalho?
— Hum, hum...
— E não tens de ir para casa?
— Deixa, que eu preocupo-me com isso.
— Está bem.
Foram ver o Homem Aranha , no Colombo, com pipocas e tudo. Curiosamente, desta vez não
foi um programa nada aborrecido. Cátia adorou, Zé haveria de ser obrigado a repetir a dose no
fim-de-semana seguinte, por não arranjar um pretexto convincente para dizer a Graça que não
queria levar Quico a ver aquele filme. Quico era fanático do Homem Aranha e ela prometera-
lhe que iriam ao cinema no sábado à tarde.
— Sentes-te melhor? — perguntou Zé. Estavam sentados num café perto do cinema. Pediram
tostas mistas e imperiais. Zé segurou-lhe a mão por cima da mesa e afagou-a com o polegar.
— Porque é que perguntas isso? — retorquiu Cátia, observando-o com curiosidade.
— Porque no outro dia me disseste que estavas muito sozinha.
— Ah, isso... — Cátia apertou a mão dele com carinho, encorajando-o. — Foi por isso que
me convidaste para sair?
— Não... — Zé sentiu a voz embargada de emoção, e teve de aclarar a garganta. — Não,
convidei-te porque gosto de estar contigo.
— Ah — sorriu. — Não foi por caridade?
— Não, é claro que não.
— És um querido.
Sou um querido? Zé também sorriu. Vieram as tostas mistas e as imperiais e ele teve de lhe
soltar a mão, com relutância.
Pediram cafés e Zé acendeu um cigarro.
— Não sabia que fumavas.

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