QUINZE
Uma semana depois Zé recebeu nova mensagem de Miguelinho: «Reunião de emergência hoje,
Irish Pub, 22:00 horas.» Merda para o Miguelinho mais as suas reuniões de emergência. Era
sexta-feira, Zé sentia-se de rastos e só queria ir para casa directamente assim que acabasse de
trabalhar. Ainda pensara em ir ao ginásio. Já não punha lá os pés há uma data de dias. Mas nem
isso faria. De qualquer forma, descobrira uma maneira mais eficaz de perder peso: o trabalho e
Cátia. Quando dera por isso, já havia perdido sete quilos e andava a nadar na roupa. Sem fazer
desporto nenhum. Deixara de se alimentar em condições, consumia-se em preocupações, corria
para casa de Cátia — e tinha de admitir que o sexo com ela era uma autêntica sessão de
ginástica —, voltava a correr para casa, dormia pouco, apanhava uma crise de nervos com o
trânsito matinal enquanto ia levar Quico ao colégio e tomava o caminho para o banco, onde
começava nova maratona. Para cúmulo, já fumava um maço de cigarros por dia e aguentava-se
em pé à custa de baldes de café, com adoçante, claro. Sim senhor, aquilo é que era qualidade de
vida.
Escreveu uma mensagem a Miguelinho a dizer que não poderia encontrar-se com ele e
recebeu outra de volta: «É muito importante, não faltes.» Ai não, que não falto , pensou. Bem
podes esperar sentado.
O pub ficava no Cais do Sodré. Estava cheio de gente barulhenta e de fumo. Sentia-se no ar
aquela descontracção típica das sextas-feiras. Zé entrou e dirigiu-se ao bar. Aparentemente,
Miguelinho ainda não chegara. Encostou-se ao balcão, consultou o relógio e sentiu-se tentado
em dar meia volta e sair. Mas olhou para o lado e viu uma loura a sorrir-lhe. Bolas, não podia
ser.
— Olá! Está boa? — Ouviu-se a dizer.
— Olá, tudo bem?
— Por aqui?
— Por aqui — confirmou ela. Hoje não trazia o cabelo apanhado e pareceu-lhe ainda mais
bonita.
— Como o mundo é pequeno — disse Zé com sinceridade. Agora, encontro esta em todo o
lado , pensou.
— Costuma vir aqui muitas vezes? — perguntou ela.
— Nem por isso — disse. — Vim cá ter com um amigo. Está sozinha?
— Não. Estou com um amigo.
— Ah, muito bem. — Que pena , pensou.
Miguelinho apareceu por trás e passou um braço por cima dos ombros de cada um deles.
— Estou a ver que já se conhecem — disse.
Eles olharam para Miguelinho, espantados. «Como o mundo é pequeno», disseram os dois,