divertidos.
Ela chamava-se Sara, trabalhava como produtora de televisão e revelou-se uma pessoa
interessada, culta e inteligente, que sabia conversar sem se perder em banalidades. Foram
sentar-se a uma mesa e Zé dedicou-lhe toda a sua atenção. Falaram de tudo o que se lembraram
e nem repararam que Miguelinho os observava sem participar, enquanto cofiava a sua barba
pouco farta, à Che Guevara. E não fizeram nenhum esforço para o demover de se ir embora
quando ele perguntou a Zé se não se importava de levar Sara a casa.
— É claro que não, eu levo-a.
— Depois falamos — disse Miguelinho.
— Eu ligo-te amanhã — respondeu Zé, quase sem desviar os olhos de Sara.
E quando repararam, já eram duas da manhã, o bar estava a fechar e Zé não dera pelo tempo
passar porque estava demasiado distraído a pensar que ela fazia umas covinhas encantadoras
nos cantos da boca quando se ria e que, tinha piada, só agora reparava que era sardenta e isso
até lhe ficava bem. Só lhe apetecia enchê-la de beijos, dar-lhe beijinhos naquela boquinha
amorosa assim, à má fila, como nos filmes. Mas não se atreveu a tanto. As mulheres portuguesas
não eram como as dos filmes, em geral, e não costumavam achar muita graça a tipos que as
tentavam beijocar apenas quatro horas depois de as terem conhecido. Zé ponderou essa hipótese
ao mesmo tempo que ela dizia uma coisa qualquer que ele já não estava a ouvir por estar
concentrado na sua boca e a pensar se teria a sorte de a beijar ainda nessa noite.
— Zé?
— Hã?
— É casado, ou não?
— Sou — disse, sem conseguir evitar uma expressão de pesar.
— É assim tão mau?
— Não, não, porquê?
— Fez cá uma cara...
— Não, às vezes é complicado, mas no geral não é mau.
— E tem filhos?
— Tenho um — disse. E sentiu-se a andar para trás a cada resposta que dava, cada vez mais
longe de a conseguir beijar.
— Um rapaz?
— Sim. E você?
— Eu não sou casada — riu-se.
— Mas tem namorado?
— Também não.
Ao menos isso , pensou Zé.
Levou-a a casa, na Avenida da República. Ficaram a falar no carro mais tempo do que seria
de esperar — o que era bom sinal —, com a desculpa de fumarem um último cigarro, e
combinaram encontrar-se no dia seguinte no ginásio.
Zé ligou a Miguelinho do carro depois de a deixar — e não, não teve direito a beijá-la.
— Estavas a dormir?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1