Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

DEZASSEIS


O problema de Zé agora era que não conseguia pensar em mais nada senão em Sara.
Encontraram-se no ginásio na segunda-feira e, à saída, ele ofereceu-se para lhe dar boleia. Ela
não o convidou para sua casa porque vivia com os pais.
— Vamos ter de ir para um hotel — disse ele a brincar.
— Está bem — respondeu ela a brincar.
— Tem alguma preferência?
— Não — disse. — Escolha você.
E foram mesmo, para um daqueles hotéis limpos, aceitáveis, respeitáveis até, mas impessoais.
Ficava na auto-estrada Lisboa-Cascais. Pediram um quarto e ficaram cerca de duas horas. Sara
surpreendeu-o com uma crueza desconcertante. Despiu-se antes dele e atirou-se para cima da
cama.
— Vai-me ao cu — disse.
— Vou-te aonde?!
— Ao cu.
Okay.
A relação com Sara foi uma experiência inteiramente nova. Sara abominava o romantismo,
dispensava preliminares — o que era bom, porque assim Zé conseguia aguentar-se mais tempo
—, cultivava a igualdade entre os sexos e era particularmente susceptível a atitudes machistas e
a paternalismos bacocos. Ao contrário do que Zé estava habituado, Sara não desempenhava
propriamente um papel passivo na cama, gostava de tomar a iniciativa, de lhe dizer o que lhe
dava prazer e era até muito dominadora. Sara dava ordens e repreendia-o se ele não fazia as
coisas exactamente como ela mandava: «Enfia-o todo, isso, assim, não, não, não pares, mais
depressa, mais depressa, porra! Fode-me! Foooode-me... Uiiii, ahhhh, uiiii, ahhhh!»
E isto feriu o amor-próprio de Zé? Não, nem por isso. Na realidade, até o excitava bastante.
Sara não era nenhuma pervertida do género de só ter prazer com algemas e chicotes, o que ela
queria era cavalgar em vez de ser só cavalgada, de lamber em vez de ser só lambida e por aí
fora. E Zé não se importava nada de a ter por cima, em investidas selvagens, enquanto lhe dizia
obscenidades gratificantes.
Além disso, Sara era capaz de correr riscos com a maior descontracção. Se estavam no carro
estacionados depois do ginásio e sentiam vontade de se devorar ali mesmo, no parque de
estacionamento, ela não hesitava nem um segundo. Fizeram-no uma vez, aliás, logo no dia
seguinte a terem estado no hotel. Deixaram o ginásio apressados e foram para o carro. Os vidros
embaciados protegeram-nos de olhares indiscretos e das câmaras de vigilância exteriores,
enquanto faziam amor na confusão dos fatos de treino e na excitação dos corpos suados do
exercício que ficara a meio por não poderem esperar mais.

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