Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

DEZOITO


Estavam deitados na cama, enrolados um no outro, acabadinhos de fazer amor, quando Zé se
lembrou de fazer a pergunta.
— Porque é que tu nunca gritas nem dizes asneiras quando fazemos amor?
— Desculpa?! — A pergunta, ao fim de dez anos de casados, pareceu-lhe, no mínimo, bizarra.
— Estava a pensar — disse —, nunca tens vontade de fazer essas coisas ou não fazes por
achares que eu não ia gostar?
— Estavas a pensar? — espantou-se Graça.
— Hum, hum...
— Porque é que eu não grito e não digo «fode-me com o teu caralho grande»? — disse Graça,
e só de a ouvir dizer aquilo já lhe soou mal. Ela soltou uma gargalhada.
— De que é que te estás a rir?
— E a que propósito é que vem essa pergunta? — quis saber ela, ainda a rir. — Andaste
enrolado com alguma galdéria que gritava e dizia palavrões?
— Não sejas parva.
— Então, gostavas que eu fosse assim?
— Não, era só curiosidade.
— Não, a sério, gostavas de experimentar?
— Não, Graça, estás muito bem assim. Até porque não seria uma coisa natural.
— Não?
— Não. Se gostasses dessas coisas, eu já sabia, ou não?
— Há bocado não tinhas tanta certeza disso, pois não?
— Tens razão, foi uma estupidez.
— Da próxima vez, vou gritar até acordar os vizinhos todos — disse ela, a gozar com ele.
— Ah, ah, ah, que engraçada.
E esta foi uma intromissão grave entre sectores da vida de Zé que, segundo o seu próprio
conceito, deviam permanecer estanques. Zé tinha caído no erro de pretender transpor para a sua
cama matrimonial aquilo que experimentara numa situação clandestina, por assim dizer. Tinha
cedido à tentação de sugerir a Graça que fosse como Sara na cama. Fora uma atitude irreflectida
e sem sentido, porque elas eram totalmente diferentes e Zé não podia começar agora a modelar
Graça à imagem de Sara. E inconsciente, na medida em que poderia levar a que Graça ficasse a
cismar se ele não teria realmente sido levado a perguntar-lhe aquilo por ter tido uma
experiência semelhante.
Zé ainda andava a sentir dificuldade em adaptar-se ao seu novo estilo de vida, pois não
estava habituado a gerir três relações em simultâneo. O que, aliás, não era nada fácil. Cátia não
sabia da existência de Sara, Sara não sabia da existência de Cátia e Graça não sabia da

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