existência de nenhuma das outras duas, e, portanto, todas acreditavam que ele só se interessava
por cada uma, exclusivamente, mas, na realidade, a agenda de Zé era bastante mais preenchida
do que elas julgavam.
Cátia esperava que ele a visitasse regularmente e que, de vez em quando, a levasse a sair para
jantar ou ao cinema, caso contrário assediava-o com mensagens de computador, telefonemas
amuados e emboscadas embaraçosas nos corredores do banco. Sara esperava que ele estivesse
disponível para fazer alguma coisa realmente louca a qualquer hora do dia, como percorrer
seiscentos quilómetros numa tarde só porque ela lhe telefonava a dizer que estava a morrer por
sexo e que, se ele não fosse, chamava o primeiro homem que encontrasse para se satisfazer.
Curiosamente, Graça ainda era a menos exigente e a mais compreensiva das três. Estava
convencida de que Zé se matava a trabalhar e queria apoiá-lo a cem por cento. Dispunha-se a
fazer os sacrifícios que fossem necessários para que ele conseguisse provar que estava à altura
do novo cargo no banco. Mesmo que, para isso, ela se visse obrigada a abdicar da companhia
do marido na maior parte do tempo. Mas Graça preocupava-se por ver que Zé começara a
emagrecer e por ele lhe parecer demasiado cansado. Zé chegava tarde a casa, recusava-se a
comer, ia directo para o quarto, desfazia-se da roupa de qualquer maneira, atirava-se para a
cama e adormecia instantaneamente. O que ela não sabia, era que Zé tinha passado a hora de
almoço com Sara e a hora de jantar com Cátia.
Hoje em dia, se algum amigo lhe viesse com fantasias e lhe dissesse como seria bom ter
muitas mulheres ao mesmo tempo, Zé responderia, com toda a sabedoria do mundo:
«Experimenta e vais ver se não morres ao fim de poucas semanas.»
O pior de tudo era que depois de as ter, não conseguia livrar-se delas. Agora já sabia como se
sentia um viciado em drogas. Não era feliz, mas também não abdicava delas.
Os fins-de-semana estavam reservados para a família. Era quando Zé conseguia mesmo
descansar. E, ao contrário de antigamente, já nem se importava de os passar sem fazer
rigorosamente nada. Graça saía para fazer compras, Quico tinha sempre uma festa de anos de
algum colega da escola e Zé ficava com a casa toda só para si. Arrastava-se pelo sofá a
dormitar frente à televisão. Eventualmente, iam os três jantar fora no sábado.
Ainda não há muito tempo, se passava um fim-de-semana assim, ficava numa angústia terrível.
Nos primeiros anos de casados houvera sempre programas, fins-de-semana fora com amigos,
pequenas viagens ao Alentejo ou ao Algarve ou, se ficavam em Lisboa, convidavam os amigos
ou familiares e tinham a casa sempre cheia de gente. A irmã de Graça aparecia muito com o
marido e davam-se bem. Mas o marido concorrera a um lugar na Comissão Europeia, em
Bruxelas, e, desde há cinco anos que só os viam quando eles vinham a Lisboa pelo Natal. A
irmã de Graça estava de novo grávida, pela quarta vez, e, ao que parecia, não se ficaria por
aqui. E era quatro anos mais nova. Trinta anos, três filhos e meio, doméstica, a viver em
Bruxelas com um brilhante funcionário da União Europeia. Tanto quanto Zé ia sabendo,
aproveitavam bem a vida em Bruxelas, viajavam muito pela Europa. Iam a França, Alemanha,
Holanda e por aí fora. Zé não conhecia quase nada. Só Paris e Londres, vagamente, uma semana
em cada cidade, em hotéis de segunda classe. Graça costumava dizer que podiam visitar a irmã
em Bruxelas — ela já o fizera uma vez, aliás, mas sozinha e ele concordava, mas acabavam
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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