Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Ah, pois... e como é que você se chama?
— Graça.
— Oiça, Graça, o seu marido é que me telefonou. Porque é que você não lhe pergunta a
razão?
— E vou fazer isso mesmo. Você trabalha com ele?
— Não directamente — disse. — Agora, se não quer saber mais nada, eu estava aqui com um
assunto importante entre mãos e...
— Tudo bem, desculpe incomodá-la, boa noite.
— Adeus, boa noite — disse, claramente aborrecida com o desplante de Graça.
De modo que, quando Zé saiu da casa de banho, Graça já reunira matéria suficiente para, pelo
menos, deduzir a acusação.
Prova A: Cátia liga duas vezes e desliga sem dizer nada quando percebe que não é o «doutor»
Figueiredo que atende o telefone.
Prova B: Cátia confessa que telefonou por causa de um assunto sem importância, embora faça
cerimónia com o «doutor» Figueiredo.
Prova C: Cátia tem um registo impressionante de chamadas não atendidas no telemóvel de Zé.
Prova D: Zé tem um registo impressionante de chamadas efectuadas para Sara.
Prova E: Apesar disso, Sara não trabalha no banco.
Prova F: Sara recusa-se a explicar porque é que Zé lhe telefona mais vezes do que é normal,
tendo em conta que não têm uma relação de trabalho directa. E diz-lhe, com alguma arrogância,
que pergunte ao marido a razão de tantos telefonemas.
— Quem são a Cátia e a Sara? — dispara Graça à queima-roupa, assim que Zé entra no
quarto.
— Como?! — exclama Zé, atordoado, de pé, junto à porta, com uma toalha enrolada à cintura
e a pingar água para a alcatifa.
— Quem são a Cátia e a Sara? — Graça repete a pergunta, mas dando-lhe uma entoação mais
cantada, reforçando assim a sua determinação em receber uma explicação satisfatória.
— Cátia é uma chata lá do banco que não me larga com coisas de trabalho e Sara é outra
rapariga do banco — diz Zé, compreendendo o que está a passar pela cabeça de Graça ao ver o
telemóvel na mão dela.
— E é normal a Cátia ligar-te para o telemóvel e não falar quando vê que não és tu e depois
desligar?
— É — diz Zé, sem hesitar.
— É?
— É. Ela não bate muito bem da bola. Tem vergonha de tudo.
— Tem? Olha, não parece.
— Porquê?
— Porque te liga a toda a hora por causa de assuntos sem importância.
— E como é que tu sabes que não são importantes?
— Porque ela me disse.
— Então, não acabaste de dizer que ela desligou sem dizer nada?

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