Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Não!!! — Lili levou a mão à boca, chocada.
— Sim, Lili, e estás a animar-me imenso.
— Ai, Graça, desculpa, mas é que fiquei tão... tão... olha, nem sei o que dizer. Mas, tens a
certeza?
— A certeza não tenho, senão não estava aqui esta noite, seguramente.
— Mas por que é que achas isso?
Entretanto na mesa:
— Duas, Zé?! Ela apanhou-te com duas?!!!
— Ela não me apanhou.
— Está bem, não te apanhou, mas também não ficou lá muito convencida com as tuas
desculpas.
— Pois, parece que não.
— Ela está lixada, Zé.
— Pois, parece que sim.
— E agora, o que é que vais fazer?
— O que é que eu posso fazer? Vou continuar a negar, claro.
Na casa de banho:
— Não é possível! Duas?!!!
— Duas — confirmou Graça, fazendo gravemente que sim com a cabeça. — Uma a telefonar-
lhe e ele a telefonar à outra. Aliás, ele telefonou às duas.
— E agora, o que é que vais fazer?
— Sei lá. Ainda estou em choque, mas provavelmente não faço nada. Não tenho prova
nenhuma de que ele me está a mentir, é só um feeling.
— E que feeling. Logo duas, caramba.
— Obrigadinha.
Sorry — fez um sorriso amarelo.
Graça e Lili regressaram à mesa. Zé e Tó perguntaram se estava tudo bem e elas responderam
que sim, embora as suas expressões carregadas dissessem que não. Graça sentia-se
desorientada e Lili nem se deu ao trabalho de disfarçar que estava furiosa com Zé. Pediram
cafés e a conta; beberam o café à volta de uma conversa escassa, de circunstância.
Nestas alturas, os sexos pareciam unir-se numa espécie de solidariedade que os colocava em
confronto. Homens contra mulheres. De tal forma que a caminho de casa Tó acabaria por ouvir
das boas de Lili por se atrever a ensaiar a defesa do amigo.
— Vocês são todos iguais — explodiu Lili. — Pensam que podem pôr os cornos às mulheres
à vontade porque isso não tem significado nenhum, não é? Já conheço muito bem essa conversa.
— Eu só disse que a Graça pode ter exagerado. Pode não ter acontecido nada. Ela não o
apanhou propriamente na cama com ninguém, pois não?
— Oh, Tó, poupa-me. Estamos a fazermo-nos de ingénuos a esta hora, não?
— Não é fazermo-nos de ingénuos, eu só disse que...
— Tu só disseste que ele é um santinho que fala com duas mulheres a toda a hora porque está
muito preocupado com o trabalho. Pois, tá bem.

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