Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

VINTE E UM


Na segunda-feira, Zé encontrou-se com Tó para tomarem uma bica num café perto do
escritório de Tó. Estava uma manhã bonita, fria mas cheia de sol. Sentaram-se na esplanada.
Havia sete mesas, metálicas, prateadas, nada daquelas porcarias de plástico oferecidas pelas
empresas de refrigerantes. O senhor Abílio, que Tó visitava diariamente, orgulhava-se do seu
café, pequeno mas com uma esplanada como deve ser.
— À tua conta — disse Tó, enquanto abanava vigorosamente o pacotinho de açúcar e olhava
para Zé com uns olhos duros, de censura —, tive de aturar a Lili no outro dia.
— Foi? — exclamou Zé, embaraçado. — O que é que aconteceu?
— Oh, o que é que aconteceu, pôs-se a mandar vir comigo por achar que te estava a defender.
— A defender-me? Mas tu não disseste nada!
— Não, foi depois do jantar, quando íamos para casa.
— Ah — fez uma careta, a imaginar a cena —, foi complicado?
— Um bocadito. — Encolheu os ombros. — Mas também já estamos habituados a ter as
nossas discussões.
— As mulheres são lixadas... — observou Zé, recostando-se na cadeira e a abanar a cabeça,
como se o que acabara de dizer constituísse uma fatalidade.
Caíram em silêncio, a observar a rua pouco movimentada e a pensar naquilo.
— Olha Zé — disse Tó, quebrando aquele momento de contemplação —, vou contar-te uma
coisa que mais ninguém sabe.
— Hum...
— E peço-te para não dizeres nada a ninguém, pelo menos para já. Prefiro manter as coisas
em segredo enquanto não falar com a minha família e com a família da Lili, para não receberem
a notícia por terceiros.
— A Lili está grávida? — exclamou Zé, com um grande sorriso.
— Não. Eu e a Lili vamos separar-nos.
— Vocês o quê?!
— Vamos separar-nos. Já conversámos muito sobre o assunto e tomámos a decisão. Não é
nada definitivo, mas eu vou sair de casa por uns tempos e depois logo se vê.
— Porra, Tó. Que chatice. Eu achava que vocês se davam lindamente. Aliás, eu achava que
eram o casal que eu conheço que se dava melhor.
— E dávamos, mas agora já não nos damos assim tão bem.
— Mas chatearam-se?
— Não. É uma decisão de mútuo acordo. Conversámos sobre isso e chegámos à conclusão de
que era melhor assim. Não estamos zangados.
— Estou banzado — confessou Zé, sem saber o que dizer.

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