Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

no regaço e os olhos pregados ao chão.
Zé agarrou no sobretudo e começou a vesti-lo.
— E nós? — perguntou Cátia. — Como é que ficamos?
— Não sei, Cátia, não sei. — Abanou a cabeça. Sabia exactamente como é que ficavam. Só
não sabia qual seria a maneira mais fácil de lhe dizer.
— Já não gostas de mim? Queres acabar tudo?
— Cátia, eu tenho a vida toda virada do avesso. Preciso de algum tempo para endireitar as
coisas em casa.
— Isso quer dizer que não nos vamos ver mais?
— É melhor não, Cátia. Pelo menos nos tempos mais próximos.
Ela ficou muda. Ele despediu-se com um murmúrio e encaminhou-se para a porta.
— Zé?
Ele voltou-se para ela e viu que duas lágrimas perfeitas lhe deslizavam pelo rosto.
— Também achas que eu sou uma burra?
— Oh, Cátia, por amor de Deus!
— Eu sei o que me chamam no banco. A burra da Bellucci.
— Isso não é verdade, a parte de seres burra.
— É verdade, Zé, não digas que não é verdade porque eu sei que é.
— Chamam-te Bellucci porque tu és bonita, não é por acharem que és burra.
— Desculpa ter estragado tudo — disse, destroçada.
— Não é culpa tua. Eu devia ter tido mais cuidado.
— Sim, mas eu não devia ter-te telefonado. Foi só que... — encolheu os ombros — estava
com saudades tuas.
— Oh, Cátia... — Zé voltou atrás, sentou-se ao lado dela e abraçou-a com força. Naquele
momento sentiu uma grande ternura por ela. Cátia parecia ferida e indefesa e custou-lhe imenso
deixá-la sozinha.
Foi-se embora cheio de remorsos. O final de uma relação era sempre penoso, mas Zé não
previra isso porque sempre pensara em Cátia apenas como uma amiga. Uma amiga especial,
mas, mesmo assim, uma amiga e nada mais. Afinal de contas, ela sabia que ele era casado e ele
nunca lhe dissera nada que lhe desse a entender que alguma vez deixaria a mulher. E Cátia nunca
lhe falara no assunto nem sugerira que pretendia algo mais do que dormir com ele. Zé tentara
uma vez dizer-lhe que não estava disponível para uma relação mais profunda e Cátia adiara a
conversa. Conversa essa que nunca tinham chegado a ter. E ele sentira-se perfeitamente
satisfeito, pois achara que ela concordava em deixar as coisas no pé em que estavam. Mas agora
constatava que afinal Cátia via a relação deles como algo mais profundo do que um simples
arranjinho de cama. Mas, pensando bem, as mulheres eram mesmo assim, fingiam concordar
com um tipo, que se tratava só de sexo, que não estavam apaixonadas e depois desatavam a
chorar quando ele se despedia delas pela última vez.
Zé dirigiu-se para o carro a pensar que Cátia nunca deixara de o espantar. Primeiro: ele
sentira-se intimidado pela beleza dela. Segundo: ele espantara-se por Cátia o querer, por achar
que não estava à altura dela — se Cátia era dona de uma beleza invulgar e poderia escolher

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