Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

Zé revirou os olhos e suspirou, na defensiva.
— Qual pergunta?
— Quem era ela?
— Não era ninguém, eu não fui ao cinema com ninguém.
— Então, como é que a Isabel te viu lá?
— A Isabel está enganada. Ela deve ter visto alguém parecido comigo, fez confusão. Só pode
ter sido isso.
— Porque é que será que eu não acredito em ti?
— Não sei, Graça, não sei — disse. — Só sei que não tens razões para te sentires assim. Eu
nunca te enganei, nunca tivemos problemas destes e agora, de repente, tu começaste com essas
paranóias, a ver mulheres em todo o lado.
— Não faças de mim estúpida!
— Eu não...
— Eu não sou nenhuma atrasada mental com paranóias que vê mulheres em todo o lado. Só as
vejo quando elas existem.
— Desculpa, Graça. Tu não és atrasada mental, só estou a dizer que estás enganada, que...
— Esta conversa não leva a nada — interrompeu-o, levantando-se. — Amanhã vou-me
embora, vou para casa dos meus pais e levo o Quico.
— Graça...
— E hoje podes dormir na sala.
— Vais por quanto tempo? — perguntou, derrotado.
— Não sei.
— Podemos conversar sobre isto amanhã, quando estiveres mais calma?
— Se estás a pensar que me vais dar a volta, esquece. Eu não vou mudar de opinião amanhã,
Zé.
— Eu não te quero dar a volta — disse, aborrecido. — Isto não é uma questão de te dar a
volta, não estamos propriamente num concurso, a ver quem ganha o prémio. Trata-se do nosso
casamento, que eu não quero que acabe, trata-se da nossa vida e do que havemos de fazer para
ultrapassar isto.
— Olha, podes ser honesto comigo, para começar.
— Eu estou a ser honesto.
— Oh, Zé, sabes que mais? — disse Graça, com a mão a varrer o ar como se estivesse a
afastar o assunto, de vez. — Não vale a pena.
Ela virou-se e caminhou para a porta da sala.
— Graça.
Ela parou e soltou um suspiro para o ar.
— O que é agora? — perguntou, sem se dar ao trabalho de o encarar.
— Eu acabei tudo com ela hoje.
Muito se poderia dizer sobre esta frase. Como ela mudou para sempre a vida de Zé — e de
Graça, evidentemente —, que ela lhe saiu da boca sem ter sido planeada, que foi uma confissão
desesperada, um recurso impulsivo a que ele recorreu quando já não sabia mais o que dizer.

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