Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

Mas o que Zé sentiu, quando se ouviu a dizer aquelas palavras irreflectidas, não foi um alívio
por estar finalmente a ser sincero com Graça, mas sim que tinha acabado de meter o pé na
argola.
Zé não era uma má pessoa, não se considerava má pessoa, sabia que andava a enganar Graça
e, por mais desculpas que desse a si próprio, por mais que pretendesse encarar a sua conduta de
ânimo leve, no fundo, no fundo, tinha consciência de que não agia correctamente. Ao ver o
tapete fugir-lhe debaixo dos pés, Zé só quis encontrar uma forma de salvar o seu casamento, de
não perder Graça. Mas ter dito a verdade não foi a melhor solução. Naquele instante
compreendeu que a relação deles jamais seria a mesma, que Graça poderia vir a perdoá-lo, mas
levaria muito tempo a ultrapassar a mágoa e que ela não seria capaz de voltar a depositar nele a
mesma confiança, como acontecera até agora. Havia algo de muito especial, um elo invisível e
exclusivamente deles que acabara de se quebrar. Lá se fora a inocência, a segurança, a
confiança, a cumplicidade e todos os valores sagrados do casamento, tudo de uma só vez.
Poderia Zé ter evitado a desilusão e o sofrimento se tivesse ficado de boca fechada, se se
afastasse de Cátia e Sara e voltasse a dedicar-se a Graça como antigamente? Talvez não, mas
todos os alarmes no seu cérebro apitaram ao mesmo tempo, dizendo-lhe que teria sido essa a
melhor opção a tomar. Porém, tarde de mais.
Graça fechou os olhos por um segundo, interiorizando o que acabara de ouvir. Zé viu os
ombros dela descaírem uns centímetros, como se um peso insustentável se tivesse abatido em
cima deles. Ela voltou-se e foi sentar-se em silêncio à beira da poltrona mais perto do sofá
grande, onde Zé estava.
— Acabou tudo — disse ele, sentindo-se impelido a preencher o silêncio opressivo que
enchia a sala como uma bolha de ar prestes a rebentar. — Eu... nem sequer gostava dela, foi
só...
Graça ergueu a cabeça e levantou uma mão para o fazer calar.
— Quem é ela? — perguntou-lhe, num tom surpreendentemente normal, sem pieguices nem
gritos descontrolados, como às vezes acontecia nestas alturas.
— É uma pessoa lá do banco, ninguém que tu conheças — disse Zé, ainda a resistir à verdade,
apesar de já não poder voltar atrás.
— Quem é ela? — insistiu Graça, endurecendo um pouco a voz.
— Cátia, chama-se Cátia. É aquela com quem tu falaste no outro dia ao telefone.
— E isso dura há quanto tempo?
— Não sei, há um, não, dois meses, mais ou menos.
— E posso saber por que é que tu decidiste rebentar com o nosso casamento assim de
repente?
— Eu não decidi rebentar com o nosso casamento, Graça. Eu gosto de ti e nunca quis acabar
com o nosso casamento.
— Ai, não? — Soltou uma gargalhada nervosa. — Olha que é o que parece.
— Eu sei que é isso que parece, mas não era isso que eu queria.
— E a outra tua amiguinha — disse Graça, sem poder evitar esgravatar um pouco mais a
ferida que a magoava —, a não sei das quantas, também foi um caso inocente, inconsequente,

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