Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

sem importância nenhuma, ou encontravam-se os três ao mesmo tempo para ser mais divertido?
— O sarcasmo em vez de gritos. Graça mal se continha na sua fúria, desespero e dor. Teve de
fazer um esforço desmesurado para não chorar. Decidira que o choro ficaria para mais tarde.
— Graça, por favor, não há mais nenhuma não sei das quantas e eu não andei propriamente
por aí metido em orgias sexuais. — Duas confissões na mesma noite pareceu-lhe excessivo. Era
melhor ficar-se por uma. Definitivamente, Zé não viu vantagem nenhuma em falar de Sara.
Contudo, Graça achou o contrário.
— Era só a Cátia, de certeza? Não vou descobrir mais tarde que havia mais alguém? Podes
dizer, Zé, o mal já está feito, de qualquer forma já estragaste a nossa vida.
— Era só a Cátia.
— Porque é que fizeste isso, Zé?
— Não sei... — abanou a cabeça — acho que me entusiasmei com ela... — Levantou as mãos
num gesto de impotência, sem saber o que dizer.
— Foi só sexo?
— Foi — reconheceu. — Eu não gosto dela.
— E de mim?
— É de ti que eu gosto, Graça.
— Então, és capaz de me explicar como é que andaste metido durante dois meses na cama
doutra mulher e, durante esse tempo todo, praticamente não fizemos amor? Não seria mais
lógico que preferisses estar com a mulher de quem gostas em vez da mulher de quem não
gostas?
Seria , pensou Zé, só que não é assim que as coisas funcionam.
— Graça — disse —, esta conversa não vai ajudar nada, só te vais sentir pior.
— Ah, só me vou sentir pior? Deu-te agora a preocupação?
— Graça...
— Tu tens a mais leve ideia de como é que eu me sinto, Zé?
— Imagino.
— Pois, bem podes imaginar como é que alguém se sente quando descobre que a pessoa que
mais amava nesta vida a atraiçoou só porque teve um entusiasmo. É isso que tu lhe chamas, não
é? Entusiasmo — proferiu a palavra com profundo desprezo. Zé ficou calado. Sentia-se como
uma criança apanhada a fazer uma asneira. Só que ele não era uma criança e não se tratava de
uma simples asneira. Era o desastre total!
— Amanhã — disse Graça — vou-me embora desta casa e, tão cedo, não quero ver a tua cara
nem ouvir a tua voz.
— Não, ouve, não tens de sair cá de casa. Eu saio e tu ficas. Quanto menos confusão para o
Quico, melhor.
— Tudo bem — assentiu Graça, levantando-se. — Então, amanhã, quando eu voltar do
trabalho, não quero encontrar-te cá em casa.

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