Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

VINTE E OITO


Zé e Sara passaram a maior parte do sábado na cama e só saíram à noite para jantar num
restaurante perto, após o que voltaram para casa e enfiaram-se outra vez na cama. Sara partia no
domingo de manhã para uma viagem de trabalho de três dias e dissera-lhe que pretendia ir de
«barriga cheia». Tinha sido exactamente esta a expressão usada por ela. Tó tinha ido passar o
fim-de-semana fora e deixara a casa só para eles, de modo que Graça surpreendera-os a meio
de uma autêntica olimpíada sexual.
Sara adormeceu por volta das três da manhã, mas Zé não conseguiu pregar olho toda a noite.
Acendeu um cigarro, pensativo, e ficou ali a fumar na penumbra, observando o corpo nu de
Sara, de costas, vendo como ela era diferente de Graça. Completamente diferente. Mais jovem,
mais bonita, mais alegre, muito mais irresponsável e, a maior parte do tempo, muito menos
interessante. Pelo menos para ele. Sara vivia despreocupadamente, habituada a pensar só em si,
em agarrar o que pretendia sem hesitar. Não mentia e dizia sempre o que pensava por mais
inconveniente que pudesse ser. A qualquer instante podia abrir a boca e deixar cair uma bomba.
Não se importava de ser escandalosa porque não queria saber o que os outros pensavam dela.
Era uma mulher livre, pouco dada a compromissos duradouros. Não casaria tão cedo e nem
queria ouvir falar em filhos. Um dia talvez assentasse, mas, para já, optava por se manter dona
de si própria, e Zé tinha a certeza de que ela não hesitaria em trocá-lo por outro que lhe
agradasse mais. Zé nem sequer pensava nela como uma relação a longo prazo. Era mais um
espécie de amizade colorida. Sara fazia amor com ele até esgotarem todos os fluidos que os
seus corpos conseguiam produzir e, embora fosse carinhosa com ele, nunca pronunciava a
palavra amor. Para ela, o que interessava era aquilo, aquele momento, estarem ali, fazerem
amor, saciarem-se e pronto. No dia seguinte levantava-se e ia trabalhar. Provavelmente, nem lhe
telefonaria durante os três dias que estivesse fora. O que ela queria era divertir-se e, se se desse
o caso de Zé pretender uma relação diferente entre eles, de não aceitar a sua indiferença, Sara
achá-lo-ia aborrecido e demasiado absorvente, sentir-se-ia asfixiada com tantas exigências e
partiria sem se despedir.
A relação com Sara não oferecia, portanto, nada de concreto em que Zé pudesse basear-se
para planear o futuro, por mais próximo que fosse. Se quisesse continuar a vê-la, teria de se
resignar a viver o dia-a-dia, porque ela não tinha mais nada para lhe dar. Graça, pelo contrário,
Graça havia construído algo com ele. Zé tinha a sensação de que passara toda a sua vida com
ela e, até há bem pouco tempo, era-lhe inimaginável viver sem ela.
Zé sabia que fizera muitas asneiras e que estava a sofrer as consequências da sua conduta.
Pior, Graça estava igualmente a sofrer. Por isso ela reagira de forma tão brusca à notícia da
separação de Tó e Lili. Era como se todo o seu mundo, que ela dera como certo, arrumado e
inquestionável, se estivesse a desfazer num abrir e fechar de olhos. Zé imaginou que Graça

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