Eu e as Mulheres da Minha Vida

(Carla ScalaEjcveS) #1

TRINTA


Cátia abandonou a obscuridade a que se votara nos últimos tempos e regressou mais radiosa
do que nunca. Zé cruzou-se com ela num corredor e achou-a tão bonita que teve uma recaída
momentânea.
— Cátia! Estás boa? — entoou a pergunta com alegria para que ela percebesse como estava
feliz por a ver.
— Estou óptima, e tu?
— Também. Há semanas que não te vejo — admirou-se.
— Tenho andado por cá.
— Eu estive uma semana enfiado em casa com uma gripe terrível.
— Ah, que chatice. E já estás bom?
— Já. Olha, podíamos sair logo à noite.
— Estou a ver que já endireitaste as coisas em casa — observou Cátia, com alguma ironia.
— Já — sorriu. — E, ao que parece, definitivamente.
— Ah, sim? Queres dizer que és um homem livre?
— Exactamente.
— Mas agora é ao contrário — disse. — Eu não sou uma mulher livre.
— Não?
— Não. Hoje vou sair com o meu namorado.
— Namorado novo?
— Hum, hum.
Nunca me vou perdoar por tê-la deixado fugir , pensou Zé enquanto Cátia se afastava de
queixo levantado e a sorrir para as pessoas que se cruzavam com ela. Levava uma saia com uma
racha absolutamente fabulosa; era alta e tinha umas pernas compridas que não podiam ser reais.
Saiu do banco às oito e foi jantar a um restaurante qualquer no Bairro Alto. Entrou no
primeiro que encontrou suficientemente cheio para se sentar numa mesa solitária rodeado de um
confortável ruído de fundo. A sua depressão já lhe bastava, não precisava de ambientes
lúgubres para curtir a tristeza. Não foi bem um risco, escolher o restaurante ao acaso porque, de
qualquer modo, Zé não estava nada interessado em comer. Abriu as hostilidades com um uísque
puro e acompanhou a refeição com mais dois iguais. Pediu um bife à casa em que mal tocou, só
para justificar a sua presença e não quis sobremesa.
Bebeu o café com mais um uísque enquanto fumava um cigarro, pensativo. O fumo ajudava-o a
descontrair e a reflectir. Zé perguntou-se porque é que se ralava tanto por Cátia ter um
namorado, quando devia era estar preocupado com o misterioso amigo de Graça. Mas não
estava, ou melhor, estava, mas não conseguia afastar Cátia da cabeça. De certo modo, encarava
o novo namorado dela como uma traição. Era certo que Cátia não o trocara por outro mas...

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