Esforçou-se por se abstrair de todas as distracções e focar-se apenas na
trajectória. Se fosse demasiado baixo, despenhar-se-ia antes do início da pista;
se fosse alto demais, aterraria muito à frente e, nesse caso, não teria espaço
suficiente para imobilizar o aparelho, sairia disparado pelo descampado que
se lhe seguia, acabaria por chocar contra a vedação e, se mesmo assim não
parasse, iria embater contra a linha de árvores subsequente. De uma coisa ele
tinha a certeza: o que quer que corresse mal não poderia ser corrigido, pois,
sem motor, ser-lhe-ia impossível abortar a aterragem.
A pequena faixa de terra batida aproximava-se a uma velocidade
surpreendente, mas Nuno começou a ver as copas das árvores a deslizarem
mesmo por baixo dos seus olhos e os segundos que o separavam daquela linha
avermelhada pareceram-lhe intermináveis. Os metros que faltava percorrer
pareciam não acabar. Nuno ajustou com força a fivela dos cintos de segurança
e depois preparou-se para o embate, já resignado à forte possibilidade de vir a
dar um mergulho cego no interior compacto da floresta, ir de nariz contra uma
árvore. Isto vai ser feio, pensou, cerrando os dentes.