O Último Ano em Luanda

impacto de qualquer coisa contra a chapa do avião — pam! — E mais outro
— pam! — A reacção imediata foi pensar que lhe estavam a atirar pedras, mas
foram só os seus três segundos de estupidez porque, embora o impacto das
balas soasse diferente sem o barulho do motor ou o uivo infernal do vento, era
evidente que alguém disparava contra o avião. Nuno mergulhou sobre o
banco do lado, deitou-se à procura de abrigo, a praguejar, foda-se, foda-se,
foda-se... tenho de sair daqui, fodaaa-se! Passou para a direita do avião, de
cabeça baixa — pam! — Foda-se, foda-se... contou até dez, respirou fundo,
abriu a porta, foda-se, foda-se para esta porraaa!, saltou para o chão e
disparou a correr a final dos cem metros, perseguido pelas balas que lhe
mordiam os calcanhares, a baterem no solo, a levantarem espirros de água das
poças. Moveu-se tão depressa quanto possível, mas não tão depressa quanto
uma bala.