— O mesmo que tu. O Spínola quer manter Angola, mas o MFA não quer,
os comunistas não querem, os socialistas não querem, ninguém quer.
— Mas ele é o presidente.
— Mas está isolado. Os militares estão fartos da guerra, o povo está farto da
guerra.
— Qual guerra? Não há guerra nenhuma em Angola!
Patrício abanou a cabeça.
— Há um estado de guerra, há escaramuças ocasionais, milhares de jovens
continuam a embarcar para Angola para cumprirem o serviço militar, contra a
sua vontade.
— Não te parece que há muita gente em Angola que preferia construir o
futuro com os portugueses?
— A começar pelos brancos?
— A começar por esses, pelos que nasceram cá, como tu. — Patrício
abanou a cabeça.
— Isso não vai acontecer.
— Como é que sabes?
— Regina, ouve o que eu te digo: isso não vai acontecer. A situação política
em Lisboa ainda está muito confusa, mas quem é que tu achas que vai ganhar
o poder?
— Os comunistas? — arriscou ela.
— Os comunistas, os socialistas, não sei, mas para o efeito vai dar ao
mesmo. Ambos disseram já que são a favor da descolonização.
Nos seus vinte e cinco anos, Patrício era um tipo encantador, de falinhas
mansas, sonhador, meio idealista, meio estroina, mulherengo.
Tinha opiniões sobre tudo e emitia-as com uma convicção desarmante. Mas
não tinha feitio de líder nem qualquer preocupação em fazer carreira.
Coleccionava empregos sucessivos, a maior parte deles em escritórios onde
parecia estar sempre de passagem, embora ultimamente tivesse assentado
como jornalista de rádio. Trabalhava para sobreviver e só quando se via aflito
de massas. De resto, vivia com pouco e não mostrava interesse pelo dinheiro.
Não tinha carro nem pouso certo. Costumava assentar arraiais em casa dos