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Eram duas da madrugada e Regina não sabia onde Nuno se encontrava. Da
última vez que falara com ele tinha sido nessa manhã e Nuno dissera-lhe que
estava no Luso, que ia só fazer uma escala numa base qualquer mais a leste e
que depois seguiria directamente para Luanda. Mas isso fora há dezoito horas.
Entretanto, muitas coisas podiam ter acontecido e Nuno poderia estar em
qualquer lado. Regina telefonara para o aeroporto e ficara a saber que um
Dornier com a matrícula correspondente ao avião dele tinha, de facto,
chegada prevista para essa tarde mas não cumprira o plano de voo, uma vez
que não aparecera. Estavam à procura dele. Regina perguntou pelas condições
meteorológicas no Leste e responderam-lhe que havia nuvens de
desenvolvimento vertical. Nada de animador, portanto.
Regina tentou acalmar-se, não perder o controlo, não pensar em tragédias.
Disse a si própria que haveria uma explicação simples para o atraso de Nuno.
Sim, era só um atraso, procurou convencer-se, um problema de última hora,
uma avaria ou talvez o tempo incerto. Algo assim tê-lo-ia retido em terra,
nalgum desses lugares impossíveis por onde Nuno andava, algures no meio
do mato, sem comunicações de jeito, sem coisa nenhuma de jeito, porra,
porque é que eu não tenho um homem normal com um emprego normal?
Nestas alturas, Regina recorria a Laurinda, para a ajudar a atravessar o
inferno. Era a sua melhor amiga. Não tinha muitas, de resto. Funcionária
pública, à beira dos trinta, duas vezes casada, outras tantas divorciada, sem
filhos, a mulher mais bonita e mais divertida que Regina conhecia em
Luanda, e também o seu maior apoio. Era mútuo, pois contavam uma com a
outra, incondicionalmente.
Depois de falar para o aeroporto, Regina desligou o telefone, voltou a
levantar o auscultador e discou o número de Laurinda.
Sentia-se à beira do pânico, os dedos tremiam-lhe, a voz tremia-lhe, os
olhos mergulhados num vale de lágrimas que já não conseguia conter. Contou
à amiga, em poucas palavras soluçadas, que morria de preocupação, que não
sabia se aguentava. Calma, Regina, que vou já para aí, disse Laurinda a
desligar o telefone, a largar tudo, a saltar da cama a meio de qualquer coisa
que não se fazia sozinha, a procurar umas cuecas na atrapalhação dos lençóis,
vestindo-se sem se comover com os protestos de um homem lindo que a via
escapar-se-lhe por entre os dedos. Era a sua amiga, explicou, precisava dela. E
ele era o quê, disparou o adónis ofendido, de queixo romano erguido, joelho
erguido, algo mais erguido, tu, meu querido, és uns faróis azuis onde uma