— Regina, querida... — Nuno estendeu as mãos para a abraçar, consolá-la,
mas ela deu um passo atrás, afastou-o.
— Não, não, não me venhas com Regina, querida . Quando é que isto vai
acabar, Nuno? Quando morreres, quando eu ficar sozinha e o André ficar
órfão?
Nuno não disse nada, não havia nada a dizer senão inventar uma mentira
piedosa e ele não teve coragem de lhe prometer algo que não tencionasse
cumprir. Os olhos de Regina encheram-se de lágrimas, ela não aguentou mais,
desmanchou a máscara de cólera num pranto de nervos desfeitos. Bateu-lhe
com a palma das mãos no peito, empurrou-o contra a parede.
— Não me voltes a fazer isto! — gritou-lhe, magoada, assustada. — Não
me voltes a fazer uma coisa destas nunca mais!
Ele puxou-a, abraçou-a, juntou-a a si com força, sentiu-a ir-se abaixo nas
pernas e amparou-a, pegou nela ao colo, levou-a para o quarto.
Depositou-a na cama, deitou-se ao seu lado, colou-se às costas dela com os
braços à sua volta e ficaram assim durante muito tempo, até Regina parar de
tremer num descontrolo nervoso, até sossegar.
Regina deixou-se estar encolhida nos braços dele a fitar a parede, a janela e
o topo de um prédio que espreitava por cima do parapeito, do outro lado da
rua. Mais calma, voltou-se na cama de modo a encontrar os olhos
preocupados de Nuno a centímetros dos seus. Olharam-se em silêncio por
longos minutos, à procura de um entendimento, de uma reconciliação.
Começaram a beijar-se, beijos tímidos, espaçados. Nuno deixou que Regina
tomasse a iniciativa por temer que ela o rejeitasse se a sufocasse com o desejo
que fora crescendo à medida que se aproximava de casa. «Tive saudades
tuas», sussurrou. Regina não conseguiu evitar que os seus olhos se
inundassem de lágrimas, novamente. Escondeu o rosto no peito dele, os seus
ombros estremeceram com soluços mudos. Nuno pediu-lhe desculpa ao
ouvido, em segredo, «desculpa, desculpa, desculpa...» repetiu, ao mesmo
tempo que lhe segurava a cabeça com as duas mãos, com ternura, e lhe
beijava a testa, os olhos molhados e tristes, a boca, o rosto.
Abafava-se de calor à uma da tarde naquele quarto fechado, e os corpos
suados, lúbricos, mexiam com eles, acentuavam a sensualidade, aumentavam
a excitação, o desejo. Regina precisava dele, precisava de o sentir dentro de si
como uma confirmação, uma garantia física de que o pesadelo acabara.
Precisava de sexo para reconfortar a alma, para se sentir segura. Mas
duvidava que fosse consolo suficiente, porque uma tristeza avassaladora