O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

Despiu-a, despiu-se. Descansou a cabeça nos seus seios, abraçado a ela.
Depois Regina não quis esperar mais e puxou-o para cima dela, guiou-o para
dentro dela. O calor, a excitação dos corpos suados, as suas almas ávidas de
amor, o prazer reconfortante, transportaram-nos para uma dimensão feliz e,
ainda que por pouco tempo, esqueceram as dificuldades que os acossavam.
Iam ser expulsos da terra que haviam escolhido para viver, para prosperar,
iam perder os seus negócios, os seus modos de subsistência, a casa. O
dinheiro acabar-se-ia e não podiam fazer nada para o evitar, a não ser, talvez,
recusarem-se a aceitar a realidade que saltava aos olhos e fazerem como
muita gente que continuava a levantar-se todos os dias sem ter a imaginação,
ou a força moral, para reconhecer o fim quando ele chegava.


Partilharam um cigarro depois do sexo. Era um ritual antigo. Nuno
acendeu-o e passou-o a Regina sem lhe perguntar se queria. Ela aceitou-o.
Fumaram a primeira metade perdidos numa nuvem introspectiva, afogados
num pântano de fluídos de amor, de suores cansados, consolados por se terem
um ao outro e convencidos de que, pelo menos isso, era uma esperança.
Ainda assim, ou precisamente por sentir a importância de se manterem unidos
naquele época incerta, Regina quis assustá-lo com uma ameaça que jurou a si
mesma cumprir.


— Da próxima vez que me fizeres uma destas — disse, numa advertência
seca de quem comunica uma decisão definitiva, sem lugar a reconsiderações
emocionais — quando regressares, não me encontras em casa.


— Não volto a fazer.
— Acho bem, porque não estou a brincar. — Deu uma última passa no
cigarro, passou-lho, virou-se de lado, de costas para ele. — Agora preciso de
dormir. Vai buscar o André ao colégio.

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