O Último Ano em Luanda

(Carla ScalaEjcveS) #1

Veio de lá do fundo da sala de braços estendidos, exuberante como era seu
apanágio, trazer um abraço íntimo ao seu amigo Nuno. Este levantou-se, de
guardanapo na mão, para o receber com alegria.


— Meu caro Nuno, meu amigo, que boa surpresa encontrá-lo aqui! E a
senhora, como vai? Formidável, pelo que vejo. — Cumprimentou Regina,
escondendo delicadamente a mão dela entre as suas.


— Bem, obrigada — respondeu ela, com um sorriso contido, ficando-se
pela justa medida da simpatia cerimoniosa. Não podia dizer que morria de
amores pelo senhor Dantas.


— Pois muito bem, pois muito bem... — disse este, de polegares enfiados
nos bolsinhos de um colete branco, a dar com o casaco amarrotado, de linho,
fazendo uma pausa pensativa, a olhar para a barriga proeminente, a voltar a
dirigir-se a Nuno. — Já sei que o seu avião já está pronto.


— É verdade — confirmou ele. — Ficou como novo.
— Ah, sim?
— Impecável.
— Aqueles rapazes trabalham bem, lá isso trabalham — considerou o
senhor Dantas, e aproximou o rosto afogueado, as bochechas ainda vermelhas
do calor da rua, para segredar uma confidênciazinha. — Bem, tenho de ir que
tenho ali aquela malta à espera. Homens de negócios. Chegaram há pouco a
Luanda, coitados, ainda um pouco às aranhas. Estou a mostrar-lhes os cantos
à casa, a fazer as apresentações, sabe como é.


— Estou a ver — disse Nuno, pondo uma expressão cúmplice.
— Mas precisamos de falar, meu caro Nuno — exclamou, num entusiasmo
súbito. — Gostava de lhe apresentar uma pessoa que o quer conhecer.
Almoço amanhã, convém-lhe?


— Perfeitamente.
— Aqui mesmo?
— Aqui mesmo.
— Então, seja. Até amanhã. Minha senhora... — Fez uma pequena vénia
de consideração a Regina. — Foi um gosto, como sempre.


Depois afastou-se, prazenteiro, em direcção à mesa onde os seus homens de
negócios se instalavam, e Nuno, sentando-se, a pensar que lá se ia a magia do

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