apanhou de surpresa. — Em cima do joelho, Nuno? Em cima do joelho?!
— Sim, em cima do joelho. Não estás a pensar com clareza.
— Uma porra, é que não estou. És logo tu que me vens falar de grandes
decisões em cima do joelho. Já te esqueceste de como é que viemos para
Luanda?
— Isso foi há seis anos, Regina.
— E então? Não estás sempre a dar a entender que nada mudou, que temos
uma relação muito fixe, que não dependemos de nada nem de ninguém, nem
sequer um do outro? Não é isso que tu pensas?
— É?
— Não sei, diz-me tu.
— Claro que não é — disse, e Regina ficou a olhar para ele como se o
relógio tivesse parado.
— Então, o que é que tu pensas? — acabou por perguntar. Tinha os olhos
vermelhos, sentia uma dor na parte de trás dos olhos que alastrava ao cérebro.
A pele da cara era espessa, sem a frescura da juventude que costumava
ostentar. As rugas de preocupação raivam-lhe a testa, acentuando-lhe o
cansaço, e Nuno teve um pensamento estranho sobre ela. Envelheceu de
repente, pareceu-lhe.
— O que eu penso — disse — é que estamos em 1975 e nos últimos anos
construímos uma vida juntos e não vamos deitá-la pela janela assim sem mais
nem menos. E, já agora, temos uma relação muito fixe e, por isso mesmo, eu
amo-te e dependo de ti em muita coisa. Fez-se um silêncio entre os dois,
enquanto Regina absorvia as palavras de Nuno e ele se dava conta do que
acabara de verbalizar, para logo a seguir fazer um sorriso desajeitado que deu
a ideia de se querer desculpar por não estar a ser o Nuno a que ela estava
habituada.
— Disse alguma coisa que não devia? — perguntou, incomodado com o
silêncio.
— Não, pelo contrário — disse Regina, usando contudo um tom
assombrado. Tentou recordar-se da última vez que ele lhe dissera que a amava
— textualmente, por palavras, não por atitudes — e não conseguiu. Alguma
vez devia tê-lo dito, mas ela não se lembrava quando.
— Então, porque é que estás a olhar para mim assim?
— Por nada — respondeu ela, apaziguadora. — É que foste tão querido